sábado, 9 de dezembro de 2017

4294) Contracapa de SoundCloud (09.12.2017)




&  o pior da velhice é ter que ficar o tempo todo explicando as piadas 

&  para algumas pessoas, a busca da verdade é uma escalada do Everest; para outras, é caminhar na estrada do Canindé 

&  tudo na vida contém apenas 10 por cento de si mesmo 

&  não há nada mais desesperador do que ver um especialista explicando alguma coisa a um leigo total 

&  não há muita diferença entre um currículo e uma carteirada 

&  desgraça pouca é investimento 

&  de manhã no espelho eu sempre estou com uma cara de Canudos depois da guerra 

&  aí um dia eles inventaram um aplicativo que extinguiu a Ocasião de Ficar Calado 

&  o que estraga a arte é a ansiedade em ser original; a originalidade só presta se for obtida sem querer 

&  hoje em dia só acredita em telejornal quem acredita também no Horário Eleitoral Gratuito 

&  o problema das redes sociais é quando se juntam a incapacidade de pensar e a obrigação de dizer alguma coisa 

&  achar que o PT é comunista é como achar que Justin Bieber canta rock-and-roll 

&  tem um pessoal aí cujo sonho é sair mundo afora punindo impunemente 

&  a imprensa nunca foi tão irrelevante, nem tão reveladora 

&  tanto a lembrança quanto a imaginação pescam num só rio, que é o da memória 

&  a burocracia e a burrice estão sempre na mesma página do dicionário 

&  e a vida nos ensina a transformar um carinho num favor, um favor num hábito, e um hábito numa obrigação 

&  eu olhei para dentro do Abismo e o Abismo neeem tomou conhecimento 

&  a gente passa a vida fazendo anotações para um grande livro, não escreve, publica as anotações, elas se tornam o grande livro 

&  o slogan “Paz e Amor” significa, na melhor das hipóteses, “Cessar-Fogo-Provisório e Sexo-Consensual” 

&  a publicidade é a arte de se dirigir a um ouvinte como se ele fosse um idiota para que ele pense que é inteligente 

&  certas tragédias têm algo de óbvio e de inconcebível, têm algo de impossível e de inevitável 

&  nem tudo em forma de verso é poesia, assim como nem toda mão batendo num piano está fazendo música 

&  tem cara que leva um tiro, escapa vivo, e fica guardando a bala dentro só pra não se esquecer 

&  às vezes alguém reage a uma desatenção nossa com tanta gentileza que dissipa a ansiedade e aumenta a vergonha 

&  fico só imaginando quem vai, no final de tudo, devotar uns urubus tão gordos 

&  tem gente que sofre um desprezo e agride o outro porque prefere o ódio 

&  a civilização como a conhecemos não sobreviveria a um mês sem energia elétrica 

&  o mundo está de um jeito que um cara pode praticar um atentado terrorista achando que aquilo é uma vingança meramente pessoal 

&  minha alegria tem lugar pra todo mundo; minha dor não é da sua conta 

&  tudo que eles querem é nos fazer escolher entre o reino da impunidade e a caça-às-bruxas 

&  não fiquem aí tocando na campainha; quem está dentro, entrou botando a porta abaixo