segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

4051) Expressões paraibanas (16.2.2016)




São expressões tipicamente paraibanas, ou de Campina Grande. Não sei até onde se estendem pelo resto do Nordeste. Mostram o grau de inventividade da nossa linguagem diária, uma linguagem de imagens fortes, sem preocupação de verossimilhança mas com impacto imediato.
 
“Se fosse uma cobra, tinha me mordido!”. Usa-se quando se está procurando algum objeto e então se percebe que ele estava bem próximo, ao alcance da mão.

“Isto aqui tem dois “v”: vai e volta”. Advertência muito comum ao se emprestar um objeto qualquer, deixando claro que é para ser devolvido.

“Rouba até pano de pereba”. Diz-se do ladrão compulsivo, ou completamente sem escrúpulos.  “Olha, você tenha cuidado quando andar aqui na vizinhança, porque esse pessoal daqui rouba até pano de pereba.”  “Pano de pereba” é aquele pano com que os mendigos envolvem e protegem as feridas que têm no corpo: ou seja, a última coisa que a alguém ocorreria roubar.

“Felicidade que...” Equivale, precisamente, a: “Ainda bem que...”, “felizmente que...”, e deve ser uma forma abreviada de algo como “A felicidade [=sorte] dele foi que...”  Ex.: “Vocês souberam?  O carro de Fulano capotou ontem na estrada.  Felicidade que vinha outro carro atrás, e as pessoas socorreram eles.” “Houve um começo de incêndio no armazém, ontem de noite.  Felicidade que um vizinho viu a fumaça e telefonou pros bombeiros.”  Há uma variante mais próxima da linguagem comum:  “Por felicidade, eles tinham levado as coisas de valor para outro lugar, os ladrões só levaram umas bobagens.”

“O remédio de um doido é outro na porta”. Quando alguém começa a se portar de maneira extravagante, a melhor maneira de lidar com ele é usando a mesma tática. 

“É um só, como a roupa de Jesus”. Diz-se de algo que nunca varia.  "Faz seis meses que eu cobro esse dinheiro, e a conversa de Fulano é uma só, como a roupa de Jesus – mês que vem eu pago, mês que vem eu pago..."  Já vi cantadores de viola dizerem de algum colega: “A cantiga de Fulano é como a roupa de Jesus, é uma só, a vida toda”. Há duas explicações para essa idéia: 1) A roupa de Cristo não tinha costuras, era feita numa única peça (daí vem a expressão "clâmide (túnica) inconsútil (não costurada)”, usada por Emilio de Menezes num soneto famoso); 2) A roupa de Jesus foi a mesma desde a infância até a idade adulta – a acreditar nesta versão, a túnica teria aumentado de tamanho, por licença poética ou autorização divina, à medida que ele foi crescendo. Penso que a primeira idéia tem alguma origem clássica ou lendária, e que a segunda brotou por confusão das pessoas sobre o conceito de que "a roupa era uma coisa só".