terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

4040) Imagine a catástrofe (3.2.2016)



A historia básica tem cinco fases, ou cinco atos. O primeiro seria A Chegada da Coisa: é o primeiro contato com o extraterrestre, o monstro, etc. Geralmente do ponto de vista de um personagem importante, em geral jovem, ao qual de início ninguém dá crença. 

O segundo é um Ato de Destruição presenciado por muita gente, dando razão ao que fora desacreditado de início. 

O terceiro ato é a Mobilização dos Poderes, e são cenas variadas de cientistas perorando, políticos se indignando ou proferindo inanidades, militares tensos querendo cortar o mal pela raiz. 

No quarto ato, a destruição se amplia e surge a função narrativa da Garota em Perigo; geralmente nessa altura está se desenrolando combate aberto entre as forças humanas e as do Inimigo, por entre cenas de fugas em massa, evacuações, etc. 

E no quinto e último ato tudo gira em torno da idéia salvadora, a Arma Terminal, que produz apoteoses de efeitos visuais e de heroísmo com orquestra ao fundo.

Esta é (com liberdades retóricas de minha parte) a sequência estrutural descrita por Susan Sontag no seu ensaio “The imagination of disaster” (em Against Interpretation, 1966). Foi deduzida a partir de dezenas de “filmes de monstros” dos EUA e Japão, os notórios filmes B daquela época. Mas também corresponde, com precisão, ao modelo criado em 1898 por H. G. Wells em A Guerra dos Mundos. É uma fábula acautelatória sobre os riscos da civilização, e ao mesmo tempo um bom pretexto para passar-no-rodo, dramaturgicamente, os símbolos dessa mesma civilização.

Sontag vai em outras direções no seu ensaio, mas como reli há pouco A Guerra dos Mundos não pude deixar de ficar pensando no modo como uma sinopse desse tipo permanece e faz sucesso em mercados culturais muito diferentes do mercado onde surgiu. Mas o filme de ficção científica B dos anos 1960 bebia do visual e da dinâmica dos velhos seriados, assim como dos argumentos da pulp fiction da época. Note-se que esse arcabouço narrativo de Wells nada tem com outros plots clássicos, como a Jornada do Herói, etc.

Sontag cita filmes de diferentes faixas de sucesso, clássicos de Cine Poeira como Rodan (1957), When Worlds Collide (1951), The Time Machine (1960), This Island Earth (1955), The Fly (1958), The War of the Worlds (1953). Sobre este último, diz que “criaturas com pele de crocodilo rubra, como aranhas desajeitadas, que invadem a Terra porque seu planeta está frio demais para ser habitável.” Wells foi também o pai desse cinema, na sua vertente febril, de ritmo jornalístico, múltiplos pontos de vista, e clímaxes que são mais cáusticos nos europeus e mais celebratórios nos norte-americanos.