quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

4041) "Os Nomes" (4.2.2016)




Em certo momento na história das guerras e conspirações internacionais, já no século 20, o mundo leitor se deu conta da existência de espiões. Como profissão já existia desde a antiguidade, certamente. Só que ainda não tinha toda uma literatura dedicada a reimaginar suas atividades. 

O pico de sucesso foi com James Bond, mas um sucesso tal condena um gênero à auto-paródia e à morte. Tinha que aparecer um gênero novo, que retratasse nossa época, ou pelo menos as décadas finais do século 20.

Depois do espião, surgiu agora o analista de riscos. 

Quem é essa figura ubíqua, anti-heróica, essa silhueta cinzentamente mainstream? São os personagens principais de The Names (1982), de Don DeLillo, um romance que transcorre em sua maior parte na Grécia. 

James Axton, o narrador, é um analista de riscos para empresas norte-americanas no Oriente. Ele e seus amigos, que são banqueiros, consultores, assessores governamentais, ficam pulando de país em país, desenraizados, estranhados, vivendo sozinhos ou com a família em apartamentos onde, mal começam a se sentir confortáveis, têm que desmanchar tudo e mudar para outro país, ainda mais indisciplinado, e de idioma imprevisível.

No meio de tudo isso, Axton e seus amigos descobrem a existência de um estranho culto, um grupo de pessoas que pratica assassinatos aparentemente rituais, por nenhum motivo aparente, a não ser o crime em si e certos detalhes externos a ele.

DeLillo tem um narrador excepcional neste livro; Axton é de uma fluência espantosa, principalmente quando está sendo mau caráter (como na sedução da esposa de um desconhecido, durante uma noitada). Ele e seus amigos comparam países como quem compara aeroportos. Vivem alerta em relação à violência local, mas têm a mais pura das certezas de que são alvos somente por sua nacionalidade, porque na verdade não têm nada do que se recriminar. 

Não são espiões.  São analistas de risco: dos seus relatórios emergirá, a milhares de quilômetros, um modelo informático de um país produzido pelo conjunto das interpretações pessoais de cada um. E decisões cruciais serão tomadas sobre o futuro dos gregos indefesos (o livro, é bom avisar, é de 1982).

Existe um limite perigoso numa sociedade tão baseada na informação. (DeLillo, em 1982, rasgava a superfície disto.) Não é só que a gente não tenha como combater o poder, é que o poder nos usa de um modo que não compreendemos. 

Os personagens deste livro, com todo o brilhantismo e espirituosidade dos seus diálogos, são cúmplices distraídos do que lhes acontece. Seu Olimpo literário é o mesmo dos megaempresários de Cosmopolis, ou da trilogia “Blue Ant” de William Gibson.





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