segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

4008) Adeuses 2015 (27.12.2015)



Amílcar era cineasta e corintiano. Ria de incredulidade quando eu falava dos times por que torço: Treze, Flamengo, Sport, Atlético Mineiro... Para ele, time era paixão, e paixão não pode haver duas. Entre outras coisas em comum, tínhamos o cinema de Roberto Santos, seu mestre. Um dia ele largou São Paulo, perdemos o contato até por Facebook. Só voltei a ter notícias dele quando a doença estava em estágio avançado. Um amigo de sorriso calmo e luminoso, com que compartilhei menos tempo do que pude.

Quando os shows de Elba Ramalho estrondavam no Canecão, com três mil pessoas de pé pulando ao som de ”Caldeirão dos Mitos”, a sanfona estava a cargo daquele paraíba moreno e magrinho que anos atrás tinha sido o esteio melódico e harmônico da banda de Jackson do Pandeiro. Severo ficava às vezes meio deslocado entre aquele grupo de cariocas, meio desconfortável com os figurinos “modernos” que era obrigado a vestir, e nas longas horas de camarim se aproximava de mim para trocar histórias da “Paraíba réa”.

Foram poucos meus encontros com Pipol, cujo nome não sei até hoje, figura querida na contracultura digital paulistana. Foi um dos criadores do websaite Cronópios, onde republicava meus artigos do JPB. Gravou para a web minha palestra sobre Edgar Allan Poe, até hoje um dos meus vídeos mais assistidos. Eu o saudava: “Power to the Pípol!”. Na competitiva São Paulo, ele se destacava pela precisão da ação e pelo alto astral do sorriso, sempre com um bonezinho e um par de óculos jonleno que me lembravam eu mesmo aos 25 anos.

Quando meus pais chegaram a Campina Grande, muito cedo ficaram amigos dos irmãos Félix e Mário Araújo. O primeiro foi morto quando vereador, num crime célebre em 1953. “Seu” Mário era uma espécie de tio a meia distância, morando perto do Ponto 100 Réis. Seus filhos eram quase que meus primos, ele nos dava a todos o mesmo carinho, os mesmos conselhos bem humorados, com seu riso baixo, discreto. Num ambiente carregado como o da política campinense, era referência de elegância, bom senso e bom caráter. Qualidades abstratas que fazem falta, mas nem tanto quando o ser humano concreto.

No Encontro Para a Nova Consciência, Pedro Camargo era o “mestre sem cerimônia”, o apresentador das mesas redondas e dos palestrantes. Mediava conflitos, informava a imprensa, entretinha o público com miniparábolas zen. Ao longo de mais de vinte anos, foram muitas as nossas conversas sobre filosofia, Tarô, cinema carioca, literatura fantástica, política. Dirigiu comédias no cinema, foi editor da revista “Ano Zero”, professor universitário. Um mestre sempre leve, sempre arguto, irônico, compassivo, solidário.