domingo, 1 de novembro de 2015

3960) Contracapa de podcast (1.11.2015)

(desenhos de Guillermo del Toro)

&  a vida é muito curta para que nela possa caber uma missão cumprida  

&  depois que a gente aprende a desligar a TV, começa o curso de aprender a não ligar de novo  

&  o corpo é o cafetão da mente, e bota a pobrezinha em cada roubada  

&  pra que tanto livro de colorir, se de acordo com a gramática eu não coloro  

&  a verdade é que tem certos autógrafos que a gente só pede para ser gentil  

&  o governo produz marginais para ter um pretexto para produzir mais polícia  

&  um dia de um velho vale um mês de um jovem  

&  a vida da gente deveria ser tão cheia de realizações que a morte fosse recebida com alívio  

&  o artista precisa ter em mente o tempo todo que está sendo observado por 10% de especialistas e 90% de leigos absolutos  

&  tudo que você escuta significa o mundo tentando lhe dizer alguma coisa  

&  a cidade vive cheia de luzes que só iluminam a si mesmas  

&  mais ensina uma queda do que dez conselhos 

&  a arte de bombardear cidades para reinar sobre ruínas  

&  o transatlântico afunda enquanto a tripulação se engalfinha e a primeira classe saracoteia no convés  

&  um planeta que tivesse várias luas desenvolveria facilmente esquemas complexos de presságios e superstições  

&  estou com uma casa pronta, mas só quero colocá-la num lugar que pareça um Cariri à beira-mar  

&  um vingador mascarado que executa banqueiros com uma bala de ouro  

&  o inferno dos tímidos é uma festa num apartamento pequeno cheio de gente desconhecida  

&  ela é daquele tipo de mulher que somente homem inteligente acha bonita  

&  palavras escritas servem para formatar a mente de quem as decifra e interpreta  

&  meus antepassados talvez se envergonhassem de mim, mas mesmo assim me orgulho deles  

&  em muitos guarda-bagagens deve haver malas não-reclamadas, contendo bombas que falharam sem explodir  

&  um sebo onde livros aleatórios estariam marcados: “este é de graça, pode levar ao caixa”  

&  romance qualquer um escreve, quero ver é inventar um provérbio que fique  

&  não há coisa mais patética do que um patife falando de ética  

&  todas as vezes que botei a mão no fogo por alguém nem o fogo escapou  

&  a melhor coisa da praia é olhar para ela de dentro do ar condicionado  

&  o Facebook é uma torre-de-marfim cheia de altofalantes  

&  um paraquedista caindo em parafuso e se encravando chão adentro  

&  toda xenofobia é seletiva  

&  um escritor cuida das palavras da língua do mesmo jeito que um caixa de banco cuida do dinheiro alheio  

&  estudos comprovam que o mundo está cheio de indivíduos que sobrevivem ao próprio caráter  

&  quando adormecemos a mente joga a âncora no fundo de si mesma e começa a captar tremores   &