sábado, 15 de agosto de 2015

3894) 7 batidas de pino (16.8.2015)



Basílio Pimentel, 44 anos, bêbado até as orelhas, ao entrar num botequim e bradar palavrões insultuosos, dizendo que ali não tinha macho merecedor de levar uma surra dele, e vendo levantar-se de um canto obscuro um marombado de porte schwarzeneggeriano revoltado com a provocação e prometendo primeiro amaciar o bife de porrada pra depois comê-lo: “Vige Maria, o pacote veio maior que a encomenda!”.

Waluza Starr, 47 anos, divorciada duas vezes e separada quatro, dançarina e atriz, depois de noites insones pensando no teste de elenco da novela e decorando um texto minimalista demais pro seu gosto, e depois de fazer o teste, pegar suas coisas, ao se despedir do assistente de direção que coordenou tudo: “Olha, hoje não é meu dia, meu bem, me deixa fora dessa, melhor deixar quieto.”

Vavá de Joaninha, 27 anos, operador de telemarketing, cearense, chegado ao Rio de Janeiro algumas meras semanas atrás, entrando tarde da noite na bodega de Carlindo, que já estava com uma das portas arriada, encostando no balcão, depois de pedir “uma Antártica estupidamente gelada” e ouvir de Carlindo que só tem Brahma morna: “Então traz duas!”.

João Pedro Amarante, 48 anos, advogado, leitor do Diário Oficial, evangélico recente, numa reunião de família a portas fechadas, para a qual foi convocado em caráter de urgência urgentíssima, ao ser botado no canto-da-parede pela esposa gélida e pelos três furibundos irmãos dela, todos exibindo provas fotográficas e documentais de sua ida a um motel com uma piriguete: “Sim, traí, mas não gozei.”

José Carlos de Souza, 32 anos, magrelo, barbeiro, envergando o uniforme branco da categoria, fumando um cigarro em frente ao Salão Excelsior, à espera do primeiro cliente do dia, depois de assobiar para uma morenona reboculosa que passava e vê-la dar meia-volta e partir furiosa em sua direção: “Oxente, dona, eu tava chamando um táxi.”

Tarcísio Alves Gama, 31 anos, bêbado aos tombos, apreendido na madruga por uma viatura da PM, depois de declarar em alto e bom som ser sobrinho do Major Peçanha da Aeronáutica, que mora ali na esquina, ao que os PMs tocam à campainha e o major emerge de pijama para dizer que nunca o viu mais gordo: “Acho que me atrapalhei, meu tio é o Major Montenegro, que mora em Macaé”.

Aluísio Malta Torreão, 28 anos, militante estudantil, ateu convicto, livre pensador, defensor do estado laico, leitor de Emil Cioran e de Charles Bukowski, escutador de Slayer e de Dead Kennedys, no primeiro jantar na casa dos pais da namorada, ao ser interpelado pela futura sogra sobre os seus planos para o futuro: “Dona Amarílis, o futuro a Deus pertence”.