sexta-feira, 31 de julho de 2015

3881) "Paris Interzone" (1.8.2015)






A “capital literária do mundo”, Paris, recebeu uma leva de escritores dos EUA no entre-guerras (Hemingway, Miller, Gertrude Stein, etc.) e outra após a II Guerra Mundial. Esta última é o foco do livro Paris Interzone – Richard Wright, Lolita, Boris Vian and others on the Left Bank 1946-1960 (1994) de James Campbell, jornalista escocês autor de uma biografia de James Baldwin, um dos personagens do livro. Campbell acompanha os escritores negros expatriados em Paris, onde encontravam ambiente para a discussão política e literária, além de serem tratados com um respeito que não tinham nos EUA. Richard Wright (Native Son), Chester Himes (Cast the First Stone), William Gardner Smith (South Street), o cartunista Ollie Harrington e James Baldwin, que na época trabalhava em seu primeiro romance Go Tell It on the Mountain.

Vários eram investigados pelo FBI por atividades políticas (Wright tinha sido membro do Partido Comunista dos EUA), mas Campbell se detém nas discussões literárias e raciais. Esses autores brigavam entre si por divergências literárias, paranóia de estarem sendo espionados ou inveja do sucesso ou das amizades uns dos outros. E todos tentando publicar em inglês na França.

Surge aí o outro eixo do livro: as revistas vanguardistas da época, em língua inglesa. Periódicos como Merlin, que entre 1952-54 publicou Beckett, Sartre, Miller e outros, Zero, Points e a Paris Review, que se tornou a mais famosa. No meio delas surge Maurice Girodias, divertida mistura de espertalhão e bon-vivant, dono da Olympia Press, que publicou inúmeras obras pornográficas e livros “malditos” como Os 120 Dias de Sodoma (Sade), além de lançar as edições originais de clássicos como Lolita (Nabokov), Naked Lunch (William Burroughs), A História de O (Pauline Rèage), Plexus (Henry Miller) e outros.

Em torno disto tudo, Campbell evoca as presenças de franceses como Boris Vian (entusiasta do jazz, da FC e do romance policial dos EUA), Sartre (que Vian chamava “Jean-Sol Partre, autor de La Lettre et le Néon") e Albert Camus, além do eterno expatriado Nabokov. Um momento crucial da literatura francesa, como sempre questionada, estimulada, sacudida e enriquecida pela literatura dos estrangeiros que vão para Paris em busca dos cafés, da bibliotecas, do liberalismo nas idéias. Alguém já disse que Paris é o melhor lugar do mundo para ser um escritor pobre, porque os prazeres mais refinados e mais exclusivos que ela oferece são gratuitos. Paris Interzone, no recorte que faz do tempo e do espaço, mostra a importância dessa segunda explosão norte-americana na literatura parisiense.