segunda-feira, 29 de junho de 2015

3853) O Futebusiness (30.6.2015)



A Seleção Brasileira ganhou dez amistosos seguidos mas bastou soltarem-lhe em cima duas ou três seleções sulamericanas e caímos todos na realidade. Uma coisa é ganhar de seleções européias que estão cumprindo um contrato Fifa “entre bocejos e pés de chinelos” e tirando fotos com os fãs. Outra coisa é entrar em campo para enfrentar colombianos e paraguaios com sangue no olho e cem anos de piadinhas verde-amarelas nos ouvidos.

O futebusiness internacional não deseja nem recomenda a decadência das grandes seleções. Tudo que ele quer é subir o sarrafo financeiro a ser saltado por todos: clubes, televisões, patrocinadores, seguradoras, confederações. Todo mundo está gastando mais com o futebol. O esporte corporativo gentrifica a pelada de rua e a transforma num complexo de gastos que vão do hotdog ao direito de imagem, da cadeira numerada à percentagem nos contratos. Ninguém quer diminuir com isso a qualidade do jogo, pelo contrário. Mas é como chamar um jogador e dizer: “Olha, você ganha 100 mil por ano, agora vai ganhar 25 milhões, e precisa corresponder à altura.” O jogador não sabe como multiplicar sua qualidade técnica nessa proporção; acaba multiplicando a marra, o nervosismo, o discurso pretensioso de vendedor-do-ano ou de escolhido-por-Deus.

Nosso sofrimento na Copa América foi uma mera continuidade do sofrimento numa Copa do Mundo em que nosso time não jogou uma boa partida sequer. Ganhou aos tropeções de times mal ranqueados, ganhou dando pancada (o time que fez mais faltas na Copa de 2014), ganhou cavando pênaltis ridículos. Na Copa América, esse tecido de incompetência continuou a ponto de não se enxergar a costura. De Felipão a Dunga a única mudança notável foi a entrada de mais uma leva de nulidades como Roberto Firmino, Douglas Costa, Filipe Luís... Se eu vir algum desses cidadãos jogar futebol no futuro, retirarei alegremente o que digo.

Jogadores medíocres escalados para se valorizarem no mercado, e o técnico deve dizer: “Olha, tou te dando uma chance única, vê se aproveita.” Até os que são bons jogadores sofrem uma pressão que os deixa mentalmente descompensados, como Thiago Silva, praticante de alguns dos gestos mais absurdos dos últimos anos; e Neymar, craque e prima-dona. Reitero o que disse: as megacorporações não querem enfraquecer o futebol brasileiro, não querem que o Brasil perca. Nossas vergonhas são mero efeito colateral. O que está acontecendo no mercado do futebol (e espero que o escândalo Fifa possa significar o começo do fim) é como durante uma partida arrancar o Maracanã do lugar onde está e depositá-lo em outro. Impossível não ter efeito na bola. A bola pune.