quinta-feira, 25 de junho de 2015

3850) 12 cantadas (26.6.2015)



Cláudio Sancarlos, economista, 49 anos, aproximando-se de uma comerciária que aguarda num ponto de ônibus, ao anoitecer, e explicando em voz baixa: “É xique-xique no pixoxó, e duas coroas-de-frade ao redor”.

Joseph Goldpepper, 61 anos, industrial, inglês, para Lin Tai Wang, 22 anos, coreana, no bar do hotel cinco estrelas onde ele está hospedado e ela atende às mesas: “Me dê uma noite sua, e quem sabe eu lhe darei os anos que me restam”.

Marcílio Rocha, 32 anos, para Lucileide Barros, 24 anos, de pé num ônibus apertado da linha 583, Cosme Velho – Leblon: “Posso ficar aqui perto de você? Gostei desse perfume.”

Casimiro Carneiro, 58 anos, português dono de bar, para a mulata que se encostou no balcão, pediu um Campari, bebeu e perguntou quanto devia: “Já pagou, antes mesmo de pedir.”

Walnério Santos Silva, 33 anos, violonista, integrante do Clube da Seresta do Grajaú, no intervalo após a canja do convidado especial: “A próxima música eu peço licença para dedicar a uma pessoa aqui presente, cujo nome não sei, mas essa pessoa sabe que é para ela, que tudo que vai ser dito aqui eu estou dizendo para ela.”

Ivo Cabeleira, 37 anos, campeão de snooker da associação atlética do bairro, mastigando um palito, na orelha-em-pé de uma balzaca gostosona que passava: “Só quero casa, comida, roupa lavada, e dinheiro pra cerveja.”

Domício Lemos Catunda, 48 anos, comerciante, para a senhorita que espera a mala ao seu lado, junto à esteira de bagagens de um aeroporto: “Podíamos rachar um táxi até a minha casa, o que acha?”

Dr. Balbino Araújo, 40 anos, advogado de uma fábrica de brinquedos, segurando um pequeno pacote com papel-de-embrulho denunciador de origem: “Quem não sabe dar não merece receber.”

Macedinho, 37 anos, filho de Oxóssi, capoeirista, fã de quadrinhos, frentista de profissão: “Madame, o que a senhora precisa é de um motorista de absoluta confiança, um homem que saiba apreciar e seguir instruções bem claras.”

François Mareillat, 40 anos, professor universitário em Montpellier: “Nunca ninguém me fez perguntas tão diretas, nunca ninguém me bouleversou dessa maneira, nunca ninguém inclinou a tal ponto o declive do meu devir.”

Carlitão das Nega, olindense, 29 anos, mestre-sala de escola local, camiseta jogada sobre o ombro, óculos escuros espelhados, para a dona do restaurante onde planeja descolar um prato: “Isso é Generina? Puxa vida! Tás batendo o maior bolão, visse? Conta esse segredo, criatura.”

Carlinhos Aguiar, 12 anos, para Vivi Pereira, 11 anos, na saída do colégio, depois de passar a manhã inteira tomando coragem: “Quer ir ver um filme comigo no domingo? Mas tu vai ter que pagar a tua.”