sábado, 16 de maio de 2015

3816) 5 teimosias (17.5.2015)










Lionel Shenanigan, 37 anos, irlandês, tipógrafo. Adormeceu uma noite, dormiu até tarde, ressonando saudável, feliz da vida. Começou a ter um sonho e decidiu que queria ficar morando naquele sonho. Fincou pé e não saiu. Os vizinhos deram estimulantes, cafeína. A família continua fazendo barulho, sacudindo ele, “pai, acorde, o senhor está dormindo há cinco dias”, e ele reagindo, “sai, sai, me deixa sonhando, se me acordarem eu dou-lhes uma surra que nenhum de vocês vai achar de novo o caminho de casa”.



São Cireneu de Éfeso (séc. VI d.C.). Criou uma argumentação, com retórica impecável, onde demonstrava a existência de Deus, e muitos estudiosos visitaram a abadia onde habitou, para debater com ele e tentar demonstrá-lo em erro. Da fórmula de S. Cireneu restam numerosas versões, todas incompletas, todas insatisfatórias. Ele a sustentou com três gerações de sábios da Cristandade, e suas últimas palavras foram: “Deus prefere a clandestinidade”.



Matilde Castellani, dona de boate, 67 anos, em algum lugar do interior paulista. Viveu na Amazônia até os trinta, e foi de lá que trouxe um óleo rejuvenescedor, o qual talvez não fizesse efeito nas numerosas clientes a quem ela o vendia, mas fazia efeito nela, que explicava: “Com isso você só envelhece até os 50 anos, aí no ano seguinte você faz 51 mas seu corpo faz 49. Com mais um ano, sua idade é 52 mas seu corpo vai a 48... Eu estou com 67 e um corpo de 33.” Isso tinha uma lógica irrespondível, e lhe rendeu uma grana que deu para comprar a primeira das oito buates.



Sandinho, 8 anos, baiano de Salvador. Fastioso e cheio de luxos com comida, um dia a mãe perdeu a paciência no almoço e disse: “Você só levanta dessa cadeira quando terminar seu prato”.  Choque de vontades, braço-de-ferro entre dois gigantes turbinados, e 48 horas depois já havia van de TV na porta da casa e a aposta virou um reality-show que a cidade acompanhou em tempo real, até que representantes da Cúria Metropolitana, do Ministério Público e da Prefeitura costuraram um armistício que permitiu a ambos sair daquilo com a pose intacta.


Casmiro, 28 anos, camisa 10 e capitão do time do Paradaisinho, de Paradaisópolis. Na reta final do campeonato, reunião com comissão técnica, diretores, alguns amigos escolhidos a dedo, para a estrela do time se sentir à vontade. O veredito técnico: nos últimos oito anos e mais de quinhentos jogos, ele bateu onze pênaltis com o pé direito, e converteu nove; e bateu quarenta e oito pênaltis com o pé esquerdo, e converteu vinte e um. Casmiro deu razão a todos, pediu desculpas, e na decisão do campeonato, quando chegou sua vez na série decisiva, ele meteu o pé com toda confiança.