sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

3712) "Leandro, Vida e Obra" (16.1.2015)



Já me bati muito aqui nesta coluna por biografias de autores importantes, não para saber fofocas da vida pessoal deles, mas para entender melhor seu processo de formação literária, suas leituras e assimilações (prefiro este termo a “influências”), o ambiente cultural onde viveram, as idéias com que interagiram.  

E também o modo como passaram (quando foi o caso) de autor diletante para autor profissional.  Como lidaram com as reações (boas ou más) de editores e leitores, da crítica, da censura, dos colegas.  Como encararam seu eventual sucesso ou fracasso.  

Uma biografia criteriosa e bem pesquisada nos ajuda a ver como os acidentes de percurso foram dando forma ao jorro de criação do autor, assim como o terreno e as pedras dão forma à correnteza de um rio.

Arievaldo Vianna produziu agora a biografia Leandro Gomes de Barros – vida e obra, publicação conjunta das editoras Queima-Bucha (Mossoró) e Fundação Sintaf (Fortaleza). 

Pode não ser a primeira biografia do criador da Literatura de Cordel, mas é a primeira que encontro, e seu grande mérito é o levantamento de dados pessoais de Leandro, através de documentação bem fundamentada.  O trabalho solitário e por-conta-própria do autor o levou aos descendentes do poeta, principalmente a sua sobrinha-bisneta Cristina Nóbrega, que deu acesso a uma documentação preciosa.

Arievaldo traça a cronologia básica da vida de Leandro, nascido em Pombal (1865), criado em Teixeira até os 15 anos, e depois indo para o Grande Recife, onde ficou até sua morte em 1918. Sem forçar a barra, ele mostra os aspectos autobiográficos dos seus folhetos, inclusive um interessante paralelo entre o anti-clericalismo do seu personagem mais famoso, Cancão de Fogo, e a difícil relação de Leandro, garoto, com seu tutor e tio pelo lado materno, o padre Vicente Xavier de Farias.

O livro tem fotos e reproduções de documentos, citações precisas dos versos de Leandro, e aborda suas relações com outros criadores do cordel como Chagas Batista e João Martins de Athayde.  

A história editorial dos seus folhetos (que Ruth Terra havia abordado em Memórias de Lutas, Ed. Global, 1983) é um tema fascinante, e difícil de reconstituir depois de mais de um século.  

O livro de Arievaldo tem tudo para ser encorpado com novas informações e análises em edições futuras, visto que pesquisas dessa natureza nunca se esgotam. No ano do sesquicentenário do nascimento de Leandro, este livro dá o pontapé inicial para as comemorações de uma explosão da cultura nordestina que só teria paralelo meio século depois, nos anos 1940, com a criação do baião por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira.