quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

3711) A Vida e os Tempos de King Mariola (15.1.2015)



Cap. 1 – De como a professora da creche deu um grito agudíssimo de terror que fez todas as crianças começarem a chorar ao mesmo tempo, numa tarde pacífica de abril, na cidade de Vila Irmã, quando Anistaldo Setúbal, de oito anos, bradou, de pé em cima de uma carteira da sala, empunhando o extintor de incêndio que acabara de arrancar da parede do corredor: “Meu nome é King Mariola!  King Mariola, nessa butina!  Quem me chamar desse outro nome horroroso eu torrarei com este meu lança-chamas!” – após o que, constatando o deslize retórico, ele próprio se dobrou na gargalhada.

Cap. 2 – De como o time de vôlei do 2º. grau do colégio Paulo VI, antes do jogo decisivo contra o colégio Pio XII, se quedou perplexo quando, na hora da fala motivacional antes de entrar em quadra, momento em que o entusiasmo guerreiro inspira frases como “Bora lá, moçada!”, o levantador King Mariola provou por a+b que o Papa Pio XII tinha sido colaborador dos nazistas, e bradou: “Bora lá, galera, vamos esmagar os subterrâneos do Vaticano, desmascarar os títeres do Reichstag, repensar o Ocidente!”, uma chamada-na-chincha com tal poder persuasivo que o time ganhou por 3 sets a zero, coisa que jamais acontecera em sua história.

Cap. 3 – De como rapidamente nos transportamos para dez anos à frente, numa reunião na Universidade Metodista do município  de Coronel Valdano (Tocantins), onde King Mariola se tornara o mais jovem chefe do Departamento de Artes, e ao questionar a escassez de verbas remetidas por um relutante Ministério da Educação ele deu um murro na mesa e propôs: “Pois então vamos mandar pro Ministério o relatório dizendo o que eles querem ouvir, e vamos fazer na vida real aquilo que a gente quer fazer, e pronto, eles nunca vão ficar sabendo, até porque eles estão todos naquele cu-do-mundo que é Brasília e não têm tempo de vigiar esse vice-cu-do-mundo que é o município de Coronel Valdano!”—e não é que deu certo?!

Cap. 4 – De como em seguida King Mariola deitou e rolou nos cifrões federais, e o Delegado local se achegou pensando em faturar alguns trocados, mas logo considerou que se fosse pêgo não teria tal poder de argumentação para se safar. 

Cap. 5 – De como talvez se encontre, um dia, um equilíbrio ameno, uma interligação sem imposição hierárquica, entre o impulso criativo de uma figuraça como King Mariola e o interesse coletivo da comunidade, mas isto não aconteceu ainda, então sua cidade que se cuide, amigo velho, ainda mais depois que ele encheu o saco desse ridículo apelido de King Mariola (onde já se viu?!) e está hoje agindo, sob um outro nome, bastante civil e comum, em algum ponto deste imenso Brasil.