sexta-feira, 24 de julho de 2015

3874) "Mad Max Fury Road" (24.7.2015)



Este quarto filme da série “Mad Max”, dirigido por George Miller (2015), é o que antes se chamava, em outros contextos, de um “tour-de-force”, uma coisa que impressiona não apenas pela qualidade do resultado mas também pela destreza que exigiu do praticante. É um filme de ação contínua, perseguição de carros e de gente o tempo todo, tiroteios e bombardeios e abordagens a toda velocidade, sem descanso, sem longas cenas voltadas para outra coisa que não seja a perseguição. Tem poucas transições de tempo. Uma delas, p. ex., é o tempo necessário para os caras que sequestraram Mad Max tatuarem nas costas dele as informações médicas necessárias a uma “bolsa de sangue” – ele é doador universal e por essa utilidade deve ser mantido vivo. De vez em quando há uma pausa na perseguição para 4 ou 5 minutos de diálogo, mas logo os motores inimigos trovejam no horizonte e a caçada recomeça. 

Gasolina e água são (previsivelmente) as duas mercadorias mais raras nesse mundo pós-holocausto, regido com mão-de-ferro tribal, e é admirável a prodigalidade com que são jogadas fora. A água é derramada em torrentes para impressionar a população, mais andrajosa do que a de Canudos. A gasolina é queimada nessas perseguições deserto afora. Mesmo depois da civilização ser destruída a petroleodependência da humanidade continuará firme. Vai gostar de carro assim na Austrália.

Quando terminei de ver, pensei: “Isso é filme pra quem adora carros, caminhões, velocidade”. Mas depois pensei, acho que melhor: “Isso é filme pra quem trabalha em equipe de filmagem”. Duvido que um câmera-man, um técnico de som, um dublê não se deslumbrem com esse filme. Diz-se que 80% das cenas perigosas foram feitas de verdade, sem computação gráfica. Dublês de carne e osso pulando de um carro para o outro, dando tiros, a 200 por hora. Quem já trabalhou com filmagem entende a dificuldade de filmar planos assim, com tudo acontecendo de fato, e sabendo que um desses atores ou figurantes pode ser atropelado ou quebrar o pescoço no take seguinte. Talvez na Austrália as proteções sindicais e trabalhistas não sejam tão rigorosas quanto nos EUA, onde cada cenazinha de briga-de-socos é cercada por contratos específicos prevendo indenização por dente quebrado. Será? Me desculpem os australianos, mas a gente imagina às vezes que a Austrália de hoje é igual a essa Austrália futurista de Mad Max.

Bandidos que se comportam como piratas de navio, jagunços kamikaze vestidos como nosferatus, coronéis garanhões com harém de jovenzinhas parideiras, lanças explosivas, um enclave do inferno cercado por desertos de sal. O futuro não será para os fracos.




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