sábado, 22 de março de 2014

3453) A Ameaça Estranha (22.3.2014)



O universo da pulp fiction (policial, ficção científica, terror, fantasia, faroeste, guerra, aventura marítima, aventura com automóveis, romance de amor...) é vasto.  Tão vasto que nele floresceu uma planta exótica, como a orquídea-vampira imaginada por H. G. Wells: a história de “weird menace”, que poderíamos traduzir pobremente como “ameaça estranha”. É um subgênero limítrofe entre o policial e o terror, porque envolve uma história de crime, só que desencadeada por pessoas (e transcorrida em ambientes) que vêm diretamente do romance gótico ou daqueles seriados dos anos 1930 cheios de vilões exóticos, grotescos, mais próximos dos quadrinhos de super-heróis do que da literatura.

As revistas mais famosas especializadas (mas não exclusivamente) em histórias de weird menace foram Dime Mystery, Horror Stories, Terror Tales, Uncanny Tales... Era um mercado fértil, onde algumas revistas surgiam, ficavam no mercado alguns meses e sumiam para sempre.  A história básica do gênero envolve o herói, a mulher e o vilão, que é sempre excêntrico.  Pode ser um supercriminoso como tinham sido Fantomas e Fu Manchu, ou um cientista louco, um monstro de algum tipo. O vilão se apossa da mulher, às vezes do casal, a quem submete a sevícias, ameaças, etc.  E o herói, quase sempre um sujeito comum, precisa invadir o castelo ou a mansão sombria, acessar o porão ou o laboratório, matar as feras ou os zumbis que protegem o espaço, driblar as máquinas e as armadilhas espalhadas por toda parte, matar o vilão e resgatar a mocinha.

Algumas revistas de weird menace custam caríssimo hoje (vão de cem a mil dólares) no mercado de sebos nos EUA. Capas e ilustrações mostram, de modo reiterado, mocinhas seminuas (roupas rasgadas, pernas e seios à mostra) sendo submetidas a torturas, amarração, maus tratos, e sendo manipulada por monstros, mortos-vivos, etc.  São um capítulo importante na construção do imaginário sado-masoquista norte-americano, em que o sexo está associado a imagens de violência, sujeição, ameaça de tortura, deformações físicas, criaturas bizarras. O melhor estudo que conheço é The Shudder Pulps de Robert Kenneth Jones (Fax Collector’s Edition, 1975), que vale inclusive pela fartura de ilustrações em p&b, e tem capítulos com títulos saborosos como “The Defective Detective”, “From the Esoteric to the Erotic”, “Foul Fiends and Fair Maidens” e “Gothicism’s Last Gasp”. E de fato ela representou a última (até agora) encarnação da literatura gótica tipo terror + erotismo, como The Monk (1796) de M. G. Lewis ou o Manuscrito de Saragoça (1815) de Jan Potocki.


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