quinta-feira, 31 de outubro de 2013

3331) Ghost Watchers (31.10.2013)



“Ghost Watchers” é um clube criado em 1998 por um grupo de entusiastas do espíritismo. Não pertencem à religião espírita; são indivíduos que tratam a mediunidade, a vida após a morte e a comunicação com os espíritos de maneira científica, pragmática. 

Investem nas faculdades mediúnicas (que têm de nascença) com o auxílio de drogas legais, disciplinas, exercícios de atenção e de concentração. 

Ficam sensíveis à presença do ectoplasma, de cujas manifestações, dizem, o mundo está cheio, mas são tão irreais para nós quanto um arco-íris para um cego.

Existem reservas de espíritos em determinadas regiões, assim como reservas de pássaros em certas áreas no campo. Na noite em que entrevistei membros do grupo, eles estavam concentrados, passeando como se fossem turistas, no quadrilátero de quatro esquinas: o vetusto hotel, a praça confortável, o cinema outrora imenso, e uma fila de restaurantes lado a lado. 

Fizemos uma visita guiada. Meu favorito foi um menino com a camisa de um time de futebol (que nenhum de nós sabia qual era), fazendo proezas na faixa de pedestres enquanto os carros o trespassavam como a um holograma. Numa alameda lateral da praça vimos desfilar um casal, a mulher com um bebê vistoso ao colo, o homem com chapéu panamá e bengala de castão. Também registramos a presença de uma moça com a blusa aberta, o cabelo preso, rindo e falando num orelhão invisível, ou que talvez não existisse mais ali.

A ruela lateral do teatro é uma mina, porque para ali convergem, mecanizados pelo hábito ou atraídos pela concha repleta de calor humano, todos os vagabundos invisíveis que não entendem direito o que está se passando. 

Vi um exemplar de flashers, aqueles espectros que surgem de repente, tornam real uma cena incrivelmente vívida, e somem logo sem deixar rastros, consumida toda a energia que tinham. 

Vi um Ecto-penitente, que se gruda ao braço dos passantes e o acompanha desfiando seu rosário de penas, cuja depressividade a vítima acaba assimilando sem ter noção do que lhe acontece.

Na segunda noite (de um sábado para um domingo), vimos um número maior, porém menos nítido ou menos focado. Casais de namorados, grupos de amigos abraçados, cantando rua afora. Pessoas conversando baixinho durante horas. 

Explicaram-me que, ao contrário da crença popular, os fantasmas ficam revivendo seus momentos felizes, não vêm pedir nada, prantear nada. Vem visitar este mundo porque é aqui que deixaram gravadas suas lembranças. “É como se o mundo,” disse-me ele, “fosse o suporte onde estão aprisionadas as lembranças deles, e eles ficassem girando nelas, e assim se tornam eternos”.