sexta-feira, 27 de setembro de 2013

3302) VII Fantasticon (27.9.2013)




(Prêmio Argos)


No fim de semana passado fui a São Paulo para o VII Fantasticon, o evento anual de literatura fantástica organizado por Sílvio Alexandre na Biblioteca Viriato Corrêa (em Vila Mariana), a biblioteca municipal dedicada ao gênero. Participei de dois debates: sobre Julio Cortázar, na companhia de Marcelino Freire, e sobre cyborgs, junto com Luiz Bras. Recebi o Prêmio Argos, concedido pelo CLFC (Clube de Leitores de Ficção Científica), pelo “Conjunto da Obra”. Agradeci ao clube, sem o qual não teria jamais me animado a escrever e publicar contos do gênero. E dediquei o prêmio a dois dos meus primeiros editores na FC: Sérgio Fonseca de Castro (que me publicou na antologia Verde... Verde..., 1988) e Roberto Nascimento, que publicou no fanzine Somnium os primeiros contos que iriam constituir meu livro A Espinha Dorsal da Memória, de 1989.

O mais interessante para mim, este ano, foi ver que o evento está ampliando as áreas de contato entre os três gêneros que geralmente aparecem juntos nos critérios de classificação dos países de língua inglesa (FC, fantasia e horror) e o fantástico considerado do ponto de vista da literatura “mainstream”. Eu já fiz palestras no Fantasticon sobre o fantástico em Guimarães Rosa e em Ariano Suassuna, e sobre a FC de William Burroughs; este ano, vi (entre outras mesas) Ignácio de Loyola Brandão e Manuel da Costa Pinto comentando o realismo fantástico da revista Planeta, e Jorge Schwarz e Andréa del Fuego discutindo a obra de Murilo Rubião.

Acho que este é um estímulo importante para contrabalançar as pesadas doses de literatura-de-gênero em língua inglesa que são a principal leitura do fã e pretendente a escritor do gênero no Brasil. Vejo jovens que leem centenas de contos de FC/fantasia/horror em inglês e não têm idéia de que são Guy de Maupassant, José J. Veiga, Hoffmann, Borges, Ítalo Calvino, Stanislaw Lem, Garcia Márquez, e tantos outros. Correm o risco de, mais do que leitores de um gênero, tornarem-se leitores de meia dúzia de fórmulas. E quando começam a escrever, reproduzem essas fórmulas, que já eram velhas quando eles nasceram, e onde é preciso ser muito sagaz e experiente para inventar uma variante realmente nova.

O Fantasticon é uma tribuna em que autores, críticos e editores se encontram para conversar. Senti falta, este ano, da tradicional “Mesa dos Editores”, em que eles avaliam o mercado e falam dos seus projetos. Mas a discussão propriamente literária é sempre de alto nível, sem pedantismo, sem jargão. Autores e leitores conversam sobre a experiência profunda de ler e de escrever ficção fantástica, e isto é o mais importante.