quinta-feira, 16 de maio de 2013

3187) Os desenhos de Feynman (16.5.2013)




Richard Feynman não tinha a vida pacata e acadêmica que se espera da maioria dos cientistas. Entre outras coisas, gostava de tocar bongô, tocou tamborim numa escola de samba do Rio de Janeiro (quando era professor do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas), jogava em cassinos para testar o cálculo de probabilidades, e era um grande conquistador de mulheres. 

Seu volume de memórias, Deve ser brincadeira, Sr. Feynman! é um dos melhores que já li.

Feynman gostava de experimentar coisas que não conhecia; era um aventureiro do espírito, que não tinha medo de errar, nem de pagar mico, nem de perder tempo, nem de ser chamado de doido. Um cientista que tenha medo de qualquer dessas coisas nunca vai ser nada além de um burocrata de laboratório, e Feynman, de certo modo, fazia ciência porque achava divertido.

A certa altura da vida começou a frequentar aulas de desenho de um amigo que era artista, e a quem retribuía dando aulas de ciência. O resultado, bastante razoável (http://bit.ly/138CSxE), está no álbum The Art of Richard Feynman, com resultados que, se não são grandes obras de arte, são bastante apreciáveis, principalmente seus retratos de nus femininos. 

(Antes que digam que só gostei dos desenhos porque admiro o desenhista, lembro que acho muito ruinzinhos os desenhos e as pinturas de Bob Dylan, que, em outros aspectos, é um dos deuses-pequeninos do meu panteão.)

Disse Feynman sobre sua experiência artística: 

“O professor de desenho não dizia muita coisa aos alunos; a única coisa que me disse foi que meu desenho estava muito pequeno para a página. Em vez disso, ele nos estimulava a tentar novas abordagens. Pensei em como nós ensinamos Física: temos tantas técnicas, tantos métodos matemáticos, que nunca paramos de dizer aos alunos como fazer as coisas. Se você faz linhas muito grossas, o professor de Desenho não pode se queixar disso, porque sempre há um grande artista que fez grandes obras usando linhas grossas. Os professores não nos empurram numa direção especial; eles precisam transmitir o que sabem por osmose, e não por instruções, enquanto o professor de Física tem o problema de estar sempre ensinando técnicas, ao invés de ensinar o espírito da solução de problemas científicos.”

Essa diferença se dá porque a execução de cada desenho vai numa direção diferente: a da individualidade do aluno, do seu “olho”, da sua “mão”, seu jeito especial de fazer as coisas. 

Já um problema da Física precisa convergir numa única direção: a da descoberta de uma verdade universal. 

Ao desenhar, Feynman constatou que cada obra de arte é um universo próprio onde as leis dos outros universos têm validade limitada.