sábado, 12 de outubro de 2013

3315) Antologias fantásticas (12.10.2013)





Saiu finalmente no Brasil a primeira tradução integral de um clássico da literatura imaginativa: a Antologia da Literatura Fantástica (Cosac Naify, 2013), organizada a seis mãos por Jorge Luís Borges, Adolfo Bioy Casares e Silvina Ocampo. Esta antologia teve um certo impacto na literatura argentina quando saiu em 1940, e um impacto muito maior com a sua segunda edição aumentada em 1965, quando Borges já havia ganho em 1961 o Prêmio Formentor, que o deixou famoso no mundo inteiro. A história tortuosa dessas edições (e da edição em inglês, The Book of Fantasy, com repertório de contos substancialmente diverso) é contada aqui num posfácio de Walter Carlos Costa. Outro posfácio desta edição da Cosac Naify é assinado por Ursula LeGuin – é o texto incluído na edição em inglês, onde a autora de Os Despossuídos faz especulações sobre os diferentes usos do termo “fantasia”. 

Esta edição é uma beleza de livro, com uma capa multicor e chamativa (onde o título e os nomes dos autores, infelizmente, ficam quase invisíveis) e um belo projeto gráfico que ajuda a leitura. São 75 textos, onde fica bem claro que os organizadores não estavam nem aí para os critérios convencionais de antologias de contos. Eles incluem trechos de romances (alguns com apenas 3 ou 4 linhas), fábulas tradicionais, diálogos teatrais (“Um lar sólido” de Elena Garro, “Uma noite na taberna” de Lord Dunsany, “Onde a cruz está marcada” de Eugene O’Neill); colocam mais de um texto de um mesmo autor; incluem textos deles próprios. É claramente um trabalho feito por prazer, sem muita preocupação com as opiniões alheias. Por isso, tornou-se um livro único, inimitável. No prefácio, Adolfo Bioy Casares faz um esboço de classificação de temas e teoriza um pouco sobre o gênero, que ele próprio praticou com bons resultados.

Há muitos contos clássicos aqui, aqueles que todo fã do fantástico já leu e talvez já tenha: obras de Maupassant, Kafka, Wells, Edgar Allan Poe. Mas há surpresas mais sutis, que nem todo mundo conhece: “Enoch Soames” de Max Beerbohm, “Ponto morto” de Barry Perowne, “O conto mais belo do mundo” de Kipling, “Sredni Vashtar” de Saki... Três deles eu havia incluído no meu Contos Fantásticos no Labirinto de Borges (Casa da Palavra, 2005): “Onde seu fogo nunca se apaga” de May  Sinclair, “O bruxo preterido” de Dom Juan Manuel e “Os cativos de Longjumeau” de Léon Bloy. E há pelo menos uns vinte que não li ainda, o que me garante algumas horas de viagem pelo fantástico, conduzido pelas mãos de quem já leu mais do que eu, em idiomas que não alcanço. O preço do livro é pesado (69 reais) mas por mim vale cada centavo.



3 comentários:

Fábio disse...

Para quem gosta do fantastico, até mesmo quer fugir um pouco da rotina é uma otima pedida. Nós dias de hoje onde os livros ( em especial de literatura fantastica), parecem serem tão iguais, chatos, com continuações que não acabam, quando a gente ver algo assim, com uma originalidade tão grande,sem amarras, não pode perder.

Flávio disse...

Eu sinto falta do fantástico no audiovisual.esses livros deveriam virar filmes.

Fábio disse...

Eu também Flavio sinto uma falta danada. Tudo bem que na decada de 80 foi um bom momento pra filmes de terror e bagaceira, mas hoje Eu fico me pensando: quando vamos ter novas histórias ( de verdade), em vez de, remake, e histórias que seguem clichês mais batidos do que são usados nos filmes da sessão da tarde.
Para piorar material interessante tem, com é o caso de livros como esse, que o Braulio nós indicou, mas, o medo de arriscar, sempre ter uma formula pronta pra tudo empobrece e muito( não só no meio audiovisual, mas também na literatura)