sexta-feira, 13 de setembro de 2013

3290) Frederik Pohl (13.9.2013)








No dia do meu aniversário a ficção científica perdeu Frederik Pohl, aos 94 anos. Li poucos livros dele (que é um autor muito prolífico) mas talvez seja um dos que mais me influenciaram. Na adolescência li a tradução de Os Mercadores do Espaço, escrito em parceria com Cyril M. Kornbluth, uma das sátiras mais devastadoras do gênero. Um mundo futuro que é caótico, miserável, explorado, mas onde todo mundo é feliz, devido à publicidade. Ela convence a todos de que estão bem, mas tudo que é descrito horroriza o leitor ou lhe provoca gargalhadas sádicas. O livro acompanha as aventuras de um publicitário que cai em desgraça e é “apagado” da realidade (à maneira de Philip K. Dick). Acho que influenciou, logo cedo, minha desconfiança em relação a essa ilustre atividade profissional. (Um amigo me disse uma vez: “Se você entrasse para a publicidade ficaria rico”, e eu disse: “Prefiro morrer de frio embaixo dum viaduto”, o que ainda não é impossível que aconteça.)

O livro de Pohl que me conquistou foi sua autobiografia The Way the Future Was (1978). Pohl, nascido em 1919, tornou-se leitor e fã de FC muito cedo, e com menos de 20 anos já era tudo: autor, editor, agente. Ocupou todas as funções nesse mercado que cresceu junto com ele. Era de um otimismo cético como poucos, bem-humorado, crítico, tinha uma mentalidade atenta e pragmática que não o impedia de embarcar em projetos quixotescos que davam com os burros nágua e dos quais ele saía endividado e gargalhando. Não cheguei a ler alguns dos seus livros mais elogiados, como a série “Gateway”. Lembro sua vinda ao Brasil em 1990, com a esposa Elizabeth Anne Hull (que ele chamava “Bettyann”, aludindo ao livro de Kris Neville) e Charles N. Brown (editor da Locus). O CLFC-Rio organizou uma recepção no salão de festas onde morava Rubenildo Barros, na Praia Vermelha. Nessa noite ele autografou meu exemplar de The Way..., e Brown tirou minha foto com Gumercindo Dórea, publicando-a depois na Locus.

Pohl, voltando de um dia estafante em São Paulo, teve disposição para conversar comigo e com José Fernandes durante mais de uma hora, ao anoitecer, em seu hotel. Por algo que comentei ele me aconselhou a leitura de um conto de R. A. Lafferty, que eu nunca lera e desde então tornou-se um dos meus contistas preferidos. Sua esposa me filiou à SFRA (Science Fiction Research Association), da qual depois vieram a fazer parte Jesus de Paula Assis, Roberto Causo e (atualmente) Alfredo Suppia. Seu blog The way the future blogs é cheio de vívidas memórias pessoais e de comentários rápidos e certeiros sobre mercado editorial, literatura de FC e o futuro da humanidade.


2 comentários:

Flávio disse...

eu começei a gostar de ficção científica,por causa da série jornada nas estrelas.

Edson Luz disse...

Não tive a oportunidade de conhecer seu trabalho, mas vou procurar. Gostei da frase do primeiro parágrafo, me enquadro na segunda opção rsrsrs.

(Um amigo me disse uma vez: “Se você entrasse para a publicidade ficaria rico”, e eu disse: “Prefiro morrer de frio embaixo dum viaduto”, o que ainda não é impossível que aconteça.)