sexta-feira, 14 de junho de 2013

3212) Os Manipuladores (14.6.2013)




Não sei a quem coube a escolha de nosso trio para trabalhar um personagem como Mr. Morris Sternson, secretário do Athletic Club de Londres. Um caráter pesadão, com pouco jogo de cintura, uma vida totalmente careta e inatacável. Seria difícil torná-lo possível de praticar o Tresloucado Gesto. O Roteiro exigia que fosse ele o autor de um atentado político, aos 42 anos, mas quando ele nos foi entregue já estava com mais de 30 e tendo passado por várias equipes. Nosso grupo era novo; queríamos mostrar uma certa virtuosidade, queríamos nos exibir um pouco. Aceitamos.

Nas três horas de tutorial percebemos que tinham deixado o algoritmo dele se cercar de loops intransponíveis, e ter criado níveis de defesa nunca vistos. Ao que parece deram-lhe alguma autonomia, pensando com isto dar-lhe liberdade; mas ele usou a autonomia para se encouraçar, se entrincheirar por trás de fractais sucessivas de si mesmo. Foi MC Seven que teve a idéia de desequilibrá-lo mentalmente, e eu complementei: “Melhor que loucura: minar seu senso de realidade”, para, quando chegado o momento do Tresloucado Gesto, ele estivesse fácil de induzir.

Aos 33 anos conseguimos apresentá-lo a um mesmerista (na casa de Sir Elroy, que ele muito reverenciava), a uma poetisa surrealista (que demos um jeito de introduzir em sua casa como amiga de sua esposa) e a um filósofo. Em poucos meses ele indicava melhoras e ao fim de um ano e meio estava envolvido com tertúlias teosóficas, e frequentava o chá do Bleeding Gate, um pub de existencialistas irlandeses. D8 Blue ironizou, disse que desse jeito Mr. Sternson iria praticar um gesto ainda mais tresloucado um ano antes do devido. Eu descobri que uma livraria próxima ao Club tinha livros de Philip K. Dick, traduções de Fernando Pessoa. Conseguimos fazer com que a frequentasse e por fim chegasse aos livros.

Dois meses antes do dia em que deveria cometer o Tresloucado Gesto, Mr. Sternson tinha separado da esposa, transformado em cash quase todos os imóveis e letras de câmbio que possuía, e tinha criado num subúrbio londrino um templo de onde era o teólogo e o contabilista. Criou uma seita que seguia os princípios da metafísica do Bispo Berkeley misturados ao “laser lilás” de P. K. Dick.  O dia do Tresloucado Gesto passou em brancas nuvens. Nada aconteceu ao potentado que nessa ocasião (como sabiam todos os Manipuladores do Futuro) ficou dez minutos vulnerável, fora das vistas de sua escolta, graças ao caos do trânsito londrino após o Blecaute. Nunca mais na História seria tão fácil mudar a História. Mas o Futuro estava jogando-se todo nessa tentativa, e voltaria a tentar. Cedemos a vez ao próximo desafiante.


Um comentário:

Anônimo disse...

O primeiro tuíte saiu em disparada derrapando o skate nas escadarias da praça, fotografou a marcha dos soldados. “Ah, que a gente despedace em luz!”. O segundo tuíte foi emborrachado pelo soco do seu próprio grito. “Ah, que miserável condição!”. O terceiro tuíte fotografou... “Com o céu por detrás”...uma multidão de verdades omitidas por conceitos parciais: vândalos. “Quando voa o condor”. O futuro ficou cego no presente por ter a audácia de atacar com os próprios olhos o spray de pimenta. “ Voa condor que a gente voa atrás”. A Praça Castro Alves é do povo. “ Ah, se fosse como a gente quer!”.