quinta-feira, 28 de março de 2013

3145) O Vampiro Parasita (28.3.2013)




Falei dias atrás do Vampiro Predador, caçador implacável, de porte aristocrático e dominador, explorador de escravos. O vampiro como senhor dos destinos alheios, cruel, inabalável, como um senhor de engenho ou um coronel do sertão. 

Existe outro tipo de vampiro, entretanto, que é tão perigoso quanto este, ou talvez mais, porque enquanto estamos nos precavendo contra o primeiro acabamos sendo assaltados pelo segundo.

O Vampiro Parasita é uma criatura frágil, insegura, carente. No primeiro contato não nos causa medo, antes desperta um misto de repulsa e piedade. 

É um Penitente, e um Penitente hábil: com meia hora de conversa bem encaixada vai diluindo a repulsa na piedade ou em outros sentimentos como uma vaga simpatia, uma sensação benfazeja de que estamos “fazendo o bem a um pobre coitado”, e uma impressão de que somos infinitamente mais fortes do que ele. É o contrário. Ele é mais forte do que nós, como as baratas que são capazes de resistir até a uma explosão atômica.

O Vampiro Parasita me faz lembrar aquela parábola oriental em que um rei pergunta a um sábio qual o animal mais perigoso. O sábio responde: “Entre os animais selvagens, o tirano; entre os animais domésticos, o adulador”. São, respectivamente, o Vampiro Predador e o Vampiro Parasita. 

Este último se infiltra em nossa vida fazendo, à força de blandície e puxação de saco, com que a gente se sinta bem em sua companhia. “Vamos dar uma festa! Tem que chamar Fulano. Me divirto tanto quando ele está por perto... pobre diabo, não tem quem dê uma força a ele.”.

Por trás do seu exterior sorridente e prestativo, o Vampiro Parasita é um Gollum, uma criatura sequiosa de nossa energia vital, que ele suga com o entusiasmo de Bela Lugosi abocanhando o pescoço de uma aldeã holandesa. Ele vive grudado de mil formas a um hospedeiro, porque se largado sozinho se dissolveria, em meia hora, num montículo de matéria orgânica inaproveitável. 

É o marido encostadão que obriga a esposa a sustentar os dois. É a esposa ambiciosa que induz o marido a financiar seus delírios de consumo e badalação. É o sócio espertalhão que vai aos coquetéis políticos enquanto o outro vira noites para entregar o projeto em dia. É o amigo prestativo e fofoqueiro que enreda todo mundo numa rede de culpas, segredos, traições. É o funcionário indemissível e intragável que azeda para sempre uma repartição inteira. 

O Vampiro Parasita não faz outra coisa senão induzir você a fazer tudo por ele, para ele. Em outro rasgo de sabedoria oriental, Bertolt Brecht definiu estes dois tipos de vampiros em seu poema curtíssimo: “Escapei aos tigres. Alimentei os percevejos”.






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