quinta-feira, 7 de março de 2013

3127) Meu romance de estréia (7.3.2013)





Um dos blogs literários que costumo ler é o ótimo The Elegant Variation, de um californiano chamado Mark Sarvas.  Dicas interessantes, ótimas entrevistas, mil idéias sobre literatura.  Numa postagem recente, ele explica que como jurado de um concurso para “Romancista Estreante” teve que ler uma grande quantidade de romances de estréia de jovens autores.  Anotou alguns dos defeitos mais frequentes, que vêm abaixo.

1) Tentar incluir coisas demais. O autor quer, no seu primeiro livro, abordar e resolver todos os problemas e fenômenos sociais do mundo. Conselho: Tudo bem em ser ambicioso, mas não queira ser um Atlas logo na primeira tentativa. 2) Não incluir muitas coisas. Estamos vivendo a apoteose da microliteratura, focalizada em detalhes mínimos e quase sem eventos a relatar. Tem gente demais estreando com romances-de-uma-idéia-só. 3) Achar que basta uma voz narrativa excêntrica para segurar o leitor de um romance. Vozes assim são bem vindas, mas muitas vezes toda a energia do autor é gasta em tentar manter essa voz, esquecendo de produzir outras coisas interessantes (ou então confiando que a voz irá distrair o leitor dessas ausências).

4) São muito coloquiais. Livros que a todo instante fazem referências a minúcias do cotidiano, coisas que muito em breve ficarão datadas. Um romance não é um bate-papo de mesa de bar. 5) São formais em excesso. O defeito oposto: muitos livros parecem ter sido escritos em outra época, de tão cintura-dura, formais, anacrônicos. Ou, o que é pior, parecem estar obedecendo religiosamente, item por item, algum Manual de Como Escrever Romances. 6) Começam com força total mas vão definhando ao longo do trajeto. São como maratonistas que disparam na frente, ébrios de triunfo, apenas para serem ultrapassados, perto do fim da prova, por competidores que souberam dosar melhor suas energias. Muitos livros desabam de vez no final, ou então vão se desorientando e se perdendo como se o autor não soubesse mais o que fazer com sua história.

7) São demasiado reconhecíveis. A gente abre dez livros e reencontra ali os mesmos relacionamentos, as mesmas situações vividas pelas mesmas pessoas das mesmas classes sociais. 8) Eles não justificam a própria existência. Toni Morrison dizia que escrevia para preencher um espaço vazio nas estantes. Há alguns tipos de livros que deveriam estar sendo escritos, mas não sabemos quais são até o momento em que lemos um deles. Infelizmente (diz Mark Sarvas) muitos escritores escrevem por escrever, escrevem para ter um livro publicado, mas chega a parecer que o texto em si, aquilo que estão escrevendo, é uma peça menor nesse processo.



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