quarta-feira, 16 de maio de 2012

2871) Os Zumbis de “Caras” (16.5.2012)


Fugimos do incêndio do shopping num carro, rodeamos o Açude Velho. A metralhadora está com Serginho, eu tenho a pistola e Vavá dois revólveres.  Nosso problema é a pouca munição. Temos que cruzar o centro da cidade, mas a gasolina acaba, à vista de um grupo dos zumbis, e eles nos cercam, rosnando. Abatemos a tiros os mais próximos e corremos, abrindo caminho a socos e coronhadas. Subimos a rua Miguel Couto deixando-os para trás, mas na Praça Coronel Antonio Pessoa outro grupo emerge das ruínas, desta vez são mais de quarenta, os homens de black-tie, as mulheres com vestidos longo em seda ou lamê, com os dentes matraqueando sem parar, o rosto em decomposição. Serginho concentra a rajada de fogo no meio do grupo e derruba vários, mas eles andam rápido, mesmo com algumas das mulheres ainda usando salto alto. Abrimos caminho até a 4 de outubro. Ali nos entrincheiramos atrás de um caminhão tombado. Recarregamos.

Vavá garante que a loja de munição da Rua João Suassuna deve estar fechada e intacta. Vale a pena tentar; mas sem atravessar a Praça da Bandeira, que a esta altura sabemos estar tomada por uma multidão. Fugimos pela Solon de Lucena, rodeando, subimos correndo a Rui Barbosa sem ser incomodados, mas quando desembocamos perto do Teatro temos mais uma vez que abrir caminho a tiros. Do Parque do Povo eles sobem às centenas, vestindo “dinner jacket” ou blazers de griffe. Alguns ainda empunham taças, as mulheres com bolsas cravejadas de jóias, os homens murmuram receitas de “dry martini” ou cotações da bolsa, por entre os lábios arroxeados e os dentes cheios de fragmentos de cérebro. Tentamos uma surtida para chegar à Getúlio Vargas mas Serginho tropeça, e os zumbis avançam sobre ele como cães sobre a queda de um osso.  Seus gritos se perdem lá atrás, corremos atirando às cegas, fugimos para a Índios Cariris. Ali é a vez de Vavá, subjugado por três deles, em trajes de equitação, que lhe desfazem o rosto a dentadas. 

Fujo, retrocedo para o Teatro, há uma porta lateral aberta, e minha única opção é subir, subir, tropeçando em cadáveres e em zumbis semi-soterrados por um desmoronamento. Chego ao topo. Uma pequena escada é o único acesso. Vão subir de um em um. Estou a dois metros de distância para abatê-los.  Meu Deus, parece um pesadelo, não sabia que já eram tantos, nunca imaginei que já tivessem chegado aqui.  Restam-me 18 balas. Fuzilarei os primeiros 18 que subirem.  Olho para minha roupa, suja de sangue e fumaça. Quando minha t-shirt e meus jeans começarem a se transformar em smoking, quando a gravatinha borboleta brotar em meu pescoço, quando meus dentes se arreganharem... eu pulo no abismo e acabou.