sexta-feira, 30 de março de 2012

2831) Hedy Lamarr (30.3.2012)




Me lembro do nome dessa atriz austríaca porque era uma das preferidas de minha mãe. Ouvi-a muitas vezes falar em “édi-lamár” antes mesmo de ver esse nome escrito. 

O filme que a levou para Hollywood foi Êxtase (1933), um filme tcheco em que aparecia nua e simulava um orgasmo. Nos EUA, por pouco não estrelou Casablanca. Seu grande sucesso foi Sansão e Dalila (1949), ao lado de Victor Mature. Largou o cinema cedo, porque não suportava Hollywood; era uma “atriz difícil”. Morreu em 2000, aos 86 anos. 

A julgar pelas fotos da época, era linda. Tinha um rosto que era uma mistura de Vivien Leigh e Ava Gardner. (Que coisa injusta, e inútil, é comparar os rostos de mulheres bonitas.)

Ela aparece hoje nesta coluna por outros motivos. Ainda na Áustria, nos anos 1930, foi casada com um poderoso industrial simpatizante do nazismo, em cuja mansão costumavam se reunir altos oficiais militares, discutindo tecnologia e armamentos. Falavam livremente na frente dela, que aos seus olhos era apenas uma esposinha atriz, do tipo bonita e burra. Não era. Era inteligente e tinha uma cabeça engenheira. 

Quando largou o marido e foi para Hollywood, ficou amiga do compositor e roteirista George Antheil, que morou em Paris e era amigo de Man Ray, Stravinsky e Ezra Pound. 

Em 1940 os dois começaram a conversar sobre a guerra de submarinos que afundava os navios aliados, e começaram a trabalhar juntos num projeto de controle de torpedos pelo rádio. Hedy procurava criar um comando de rádio que mudasse de frequências, e Antheil sugeriu usar uma fita perfurada com as das pianolas mecânicas. 

Nesta página (http://bit.ly/sotDzn), vê-se uma cópia da patente requerida pelos dois, com data de 1942. (Um sistema semelhante é usado hoje nos celulares, para evitar interferência.)



Em 1997, a Electronic Frontier Foundation concedeu-lhe (e, postumamente, a Antheil) um prêmio pelo desenvolvimento pioneiro dessa tecnologia, chamada de Salto de Frequência ou FHSS (Frequency Hopping Spread Spectrum).

Antheil escreveu sobre ela: “Hedy é uma ótima garota, mas meio maluca, que além de ser muito bonita passa a maior parte do tempo livre inventando coisas. Ela acabou de inventar um novo tipo de ‘soda pop’, que está patenteando, imagine só”. 

O engenheiro Nino Amarena, que a entrevistou em 1997, disse: “Nunca achei que estava conversando com uma estrela de cinema, mas com uma inventora, uma colega. Quando duas mentes afins falam sobre tecnologia, desaparece a idade, o sexo, a experiência de cada um”. Todos dizem que a beleza de Hedy foi uma espécie de maldição que a jogou num ambiente que ela detestava, o “star system” dos estúdios de cinema.