domingo, 25 de março de 2012

2827) O Princípio Peter (25.3.2012)




A Lei de Murphy diz que “o pão com manteiga sempre cai com a manteiga pra baixo”, ou, mais genericamente, que “se uma coisa tem alguma possibilidade de dar errado, dará; e se puder dar mais errado ainda, pode contar com isto”. Há muitas “leis” assim, informalmente criadas, e que guardam o nome dos seus criadores. E no meio delas fala-se muito num tal de “Princípio Peter”, que não é tão conhecido e precisa sempre ser explicado.

De tanto ouvir falar nele sem entendê-lo por completo fui consultar a mãe-dos-burros. (Se o pai-dos-burros é o dicionário, a mãe é a Wikipedia.) O “Peter Principle” foi formulado por um canadense chamado Laurence J. Peter e diz apenas: “Numa hierarquia, cada empregado tende a subir até alcançar o nível de sua incompetência”. O livro com o nome desse princípio foi lançado em 1969 e tornou-se um best-seller.

O que Peter afirma é simples. Quando um sujeito se destaca em seu trabalho ele é promovido, porque seus chefes veem suas qualidades e querem aproveitá-las num nível mais alto. Se ele se destaca de novo, torna a ser promovido e vai subindo. (“Promoção”, num trabalho sério, é um pouco como subir de nível num videogame: seu prêmio é ir recebendo incumbências cada vez mais difíceis.) Chega então um momento em que o sujeito começa a não corresponder, a não se desempenhar tão bem quanto fazia nas funções inferiores. Ele atingiu (nas palavras de Peter) seu nível de incompetência. E ali ele fica.

A sutileza é que na vida profissional há outros fatores envolvidos além da mera apreciação e avaliação da competência. Quando um sujeito passa por promoções sucessivas, ele vai acumulando tempo de serviço, respeito, admiração dos colegas, temos dos subalternos, força política. Se só contasse a qualidade do desempenho, ao atingir seu nível de incompetência ele seria rebaixado para o posto anterior, onde chegou a se destacar. Mas não é isso que acontece. O sujeito, que lutava para ser promovido, percebe que está meio perdidão e faz o possível agora para não ser rebaixado. E geralmente consegue. Há uma quantidade imensa, em qualquer empresa, de funcionários que estariam se saindo muito melhor num cargo inferior ao que efetivamente ocupam; mas para descobrir seu nível de incompetência foi preciso promovê-los para uma função de onde agora é difícil tirá-los.

Claro que todo mundo acha uma saída. Exércitos, bancos, multinacionais dão um jeito de “premiar” o cara com um cargo bem remunerado em Singapura ou Cabrobó. Num artigo na revista “Edge”, Nicholas G. Carr diz: “A viga mestra do sonho americano, o desejo de subir a escadaria do sucesso, tornou-se uma receita para a mediocridade em massa”.