sábado, 11 de agosto de 2012

2947) Ser detetive (11.8.2012)



Na semana passada, César Dias, um rapaz que estava de moto com um amigo, foi morto em São Paulo pela polícia, a qual alegou “resistência seguida de morte” (http://bit.ly/Orxh2h). 

O pai do rapaz, um eletricista, não se conformou e foi à cena do crime, onde observou uma série de inconsistências no que os policiais afirmaram. Disse ele:

“Confio no César. Tinha o coração bom, nunca gostou de violência. Saí do hospital indignado e fui para a cena do crime, analisando tudo. Como eu trabalhava com informática, tenho a mente muito analítica. Vi erros grotescos logo de cara.

“Segundo os PMs, meu filho empreendeu fuga. Estranho: se ele estivesse fugindo, numa CB 300, você acha que a viatura o alcançaria? 

Segundo: de acordo com a PM, meu filho estava fugindo com o garupa atirando na viatura. A viatura estaria atrás e a moto na frente. Por que meu filho está com dois tiros no peito, um na lateral do tórax, um na virilha e outro na perna esquerda? E por que o Ricardo estava com três tiros na perna pela lateral e não por trás? 

Terceiro erro: se eles fugiam, estavam velozes ao perder o controle quando caíram da moto. Me mostra um arranhão nessa moto. Ela está intacta. 

Quarto: se meu filho estava fugindo, para ele perder o controle, tem de ter marca da frenagem da moto e da polícia. Não tem. 

Quinto: Se os meninos tivessem caído com a moto, eles estariam machucados. Os meninos não tinham hematomas. 

Sexto: os meninos foram supostamente socorridos na hora. Não foram. Pela quantidade de sangue, eles ficaram muito tempo no chão. 

Sétimo: se ele estivesse fugindo, as marcas de tiros na moto seriam em paralelo ou diagonal. Foram transversais. O PM começou a analisar a cena. Olhou para mim e falou: ‘Os policiais fizeram m...’.”

Os cinco policiais envolvidos foram detidos para investigação. E surge a questão do que é “ser detetive”. 

Para muita gente, um detetive é um membro da força policial que investiga crimes e identifica os seus autores. No presente caso, contudo, o único detetive foi o pai do rapaz. 

Um detetive é alguém que, como um cientista, observa fatos, interpreta detalhes que outras pessoas não perceberam, e extrai uma explicação, uma teoria sobre o que aconteceu. 

Um médico faz a mesma coisa observando pacientes e seus sintomas; um mecânico de oficina idem, mexendo num motor com defeito. 

Um detetive não é necessariamente um funcionário do aparato policial do Estado (os detetives particulares surgiram na literatura para reforçar esse fato). Um detetive é alguém capaz de reconstituir fatos que não presenciou, a partir de indícios indiretos, de “ver as coisas com seus próprios olhos”, como dizia o Dick Peter de Jeronymo Monteiro. 





2 comentários:

Daniel Andrade disse...

mais uma vez policiais corruptos!
até quando fatalidades assim continuarão acontecer no Brasil?
o pai da cara teve que fazer o papel da justiça! brasil um país de porcos!

Jean disse...

Essa história é impressionante por ser verdade.