quarta-feira, 11 de julho de 2012

2920) "Prometheus" (11.7.2012)








O novo filme de Ridley Scott parece iniciar uma fusão entre os dois clássicos que ele dirigiu na FC (Alien, o 8. passageiro, 1979, e Blade Runner, 1982).  Os filmes ocorrem em diferentes universos, oriundos de autores não relacionados um ao outro, mas que Scott parece querer botar esses universos embaixo da sua própria asa.  Em ambos os filmes existiam andróides (chamados “replicantes” em Blade Runner) e parece ser este o elo entre as duas linhas ficcionais.  Em Alien e Prometheus não vemos a Terra, a não ser em duas cenas curtas no início do segundo filme, cenas em lugares desertos, que nada nos mostram da realidade urbana desse futuro. Uma Terra capaz de gastar um trilhão de dólares mandando uma nave a um planeta distante, para que dois arqueólogos confirmem ou não sua tese sobre a origem de humanidade. Será a mesma Terra cuja Los Angeles em 2019 produzia  replicantes?

Se as histórias vão se mesclar através do enredo, contudo, é menos importante do que o fato de que se mesclam através da temática.  A expressão “encontrar o seu criador” (“to meet thy maker”), usada em Blade Runner, é retomada insistentemente neste filme, só que desta vez não são os replicantes que querem um tête-à-tête com o engenheiro que os criou (Tyrell, da Tyrell Corporation) e sim os humanos que descobrem (ou imaginam ter descobertos) indícios de que a humanidade foi criada por uma raça de Engenheiros que veio de outra parte da Galáxia.

Blade Runner já questionava a frieza com que os humanos tratavam os replicantes, frieza e insensibilidade dignas de qualquer andróide.  O David de Prometheus é um andróide que trata os humanos com a polidez impecável e desdenhosa de um mordomo inglês administrando uma família nobre mas disfuncional; mas a executiva de carne e osso interpretada por Charlize Theron não é mentalmente menos andróide do que ele.  Ela e David confirmam a frase de Philip K. Dick de que alguém que não se preocupa com o sofrimento de uma criatura viva é uma máquina, mesmo que seja uma criatura viva.

Prometheus deve elementos aos filmes já citados mas também a 2001 de Kubrick (sinais achados na Terra remetem expedição a um planeta distante) e a Missão: Marte de Brian de Palma (montanha oca, estatuária colossal, tempestade de areia, nave soterrada, fecundação dos oceanos terrestres com DNA alienígena). É o próprio DNA do gênero que Ridley Scott está mais uma vez dissecando e recombinando, e em termos de perfeição técnica e ousadia visual ele está mais próximo de Kubrick do que de De Palma.  Esta primeira metade da sua nova narrativa justifica a expectativa pela segunda.

2 comentários:

Ítalo M. R. Guedes disse...

Apesar de achar que Prometheus tinha potencial de ser um grande e redefinidor filme de ficção científica, não gostei dele. Minha impressão é de que há uma sutil, quase subliminar, mensagem anti-científica no filme todo. O que parece ser uma nova tendência em filmes e séries americanas que, ironicamente, são vistos como pertencendo ao gênero ficção científica. É o caso de Prometheus, mas também Avatar e Fringe. A mensagem parece ser "a ciência é má porque está tomando o lugar e o papel de Deus". Espero estar enganado.

Braulio Tavares disse...

Em Prometheus, pelo menos, há a ciência da Corporação que envia a nave (utilitária, pensando em lucros e orçamentos)e a ciência do casal de antropólogos que descobre a mensagem dos Engenheiros. O roteiro descreve um combate entre essas duas visões, com vitória (provisoriamente) da segunda.