terça-feira, 20 de dezembro de 2011

2744) A palavra pantim (20.12.2011)




Uma das palavras mais elusivas do nosso idioma nordestinense; serve para um número tão grande de situações que fica difícil atribuir-lhe um sentido principal. Se eu tivesse de escolher algum, escolheria: “fricote; manha; frescura; nhém-nhém-nhém”. 

-- Vamos, rapaz! Começa logo esse show, e deixa de pantim! 

Ou:

-- Deixe de pantim, eu estou só trocando o curativo. 

É qualquer reação exagerada, artificial, “valorizando” demasiadamente uma situação que não tem muita gravidade. Como neste exemplo de Nei Leandro de Castro, em As pelejas de Ojuara

Teve uma hora que Silva da Mata parou, deitado de costas, a língua para fora, os olhos revirados. Ficou desse jeito, totalmente imóvel, a respiração suspensa. Ojuara fez força para não rir daquele pantim, o mais demorado que ele já tinha visto na vida. 

No folheto da 2ª Peleja de José Costa Leite com Maria Quixabeira, de José Costa Leite, vemos: 

Você com esse pantim 
já está me chateando 
a mulher é quem não presta 
a metade vive enganando 
mas já vi uma direita 
uma vez, eu não sei quando. 

 Na canção de Capiba “Quem vai pra farol é o bonde de Olinda”, de 1937, ele já diz: 

Você sabe que eu sei 
e todo mundo já fala 
porém você quer me ocultar; 
confesse logo e deixe de pantim para mim 
que você vive a me enganar. 

Dicionários on-line por aí dão-lhe um significado que, sinceramente, nunca vi sendo utilizado: “boato, notícia assustadora, alarmante”. Vejo, por outro lado, a expressão “fazer um pantim” no sentido de “fazer uma encenação qualquer para pregar susto em alguém”: “Ele ficou escondido atrás da porta, com um lençol, quando os meninos entraram ele fêz um pantim, e os meninos saíram correndo”. 

Outra acepção de “fazer pantim” é esboçar um gesto, deixando-o incompleto, ou apenas a título de ilustração: “Ele não puxou a faca não. Fez só o pantim, mas a gente se assustou e saiu correndo.” "Passa a carteira pra cá, ligeiro! Sem fazer pantim!" 

Tenho imensa curiosidade em saber a origem desse termo, mas nunca me ocorreu uma hipótese que valesse a pena. 

Existe uma leve possibilidade de que venha do francês pantin ("fantoche; pessoa ridícula"). O filme de Luís Buñuel Este Obscuro Objeto de Desejo baseia-se num romance de Pierre Louys intitulado La femme et le pantin (filmado também por Julien Duvivier, com Brigitte Bardot, e por Josef von Sternberg, com Marlene Dietrich). 

Literalmente, seria "A Mulher e o Fantoche": a personagem é uma jovem bonita que passa o filme inteiro prometendo entregar-se a um homem idoso, e esquivando-se dele na hora H. Ou seja, em bom paraibanês: ela não dá nunca pra ele, faz somente o pantim.