sábado, 7 de maio de 2011

2550) Obama vs. Osama (7.5.2011)



Depois da execução sumária de Osama Bin Laden num aparelho subversivo instalado numa cidade do Paquistão, saiu na Internet: “Não confunda Obama com Osama. Um deles é o líder de um grupo terrorista. O outro está no fundo do mar.” A morte de Bin Laden não foi muito diferente de morte de Carlos Marighella ou de Carlos Lamarca, dois dos mais famosos terroristas brasileiros. Terroristas, em geral, escolhem morrer mediante uma execução sumária, impiedosa. Eles sabem disso. Foram eles que impuseram, aos regimes que combatiam, as regras do combate. As regras dos terroristas são sempre adotadas pelos governos que os perseguem. Essas regras envolvem: violência planejada; desprezo pelas tecnicalidades jurídicas e pelos preceitos constitucionais; ação rápida, implacável, cruel; intensa participação da mídia, para que o maior número possível de pessoas saiba o que aconteceu; retórica bombástica, salvacionista, sempre invocando princípios abstratos e clichês com que pessoas de mente rudimentar podem se identificar sem muito esforço.

Isto é posto em prática tanto pelos insetos quanto pelos descupinizadores; vale para as “almas sebosas” e para os “justiceiros”. O terrorismo não pertence ao universo da política, pertence ao universo da literatura de terror. Seu objetivo não é substituir um governo por outro, um partido por outro, um regime por outro. Seu objetivo é produzir o terror. Acho que todo mundo conhece aquela fábula do escorpião que pede carona a um sapo para atravessar um rio. O sapo diz: “Eu, hein, você é capaz de me ferroar durante a travessia”. O escorpião retruca: “Ora, eu não sei nadar, se eu ferroar você eu morro afogado”. O sapo acha que aquilo tem lógica, bota o escorpião nas costas e começa a atravessar o rio. No meio da travessia, o escorpião o ferroa. Morrendo envenenado, o sapo grita: “Mas assim você vai morrer também!”. E o escorpião: “Eu sei, mas, não posso evitar, é minha natureza”.

É da natureza do terrorismo morrer, desde que alguém mate. É de sua natureza transformar o mundo da paz no seu mundo da guerra, o mundo da tranquilidade no seu mundo do medo, o mundo do contrato social no seu mundo com sangue nos dentes e nas unhas. Osama Bin Laden quer mostrar ao mundo que quem governa o mundo não são as intenções de Barack Obama, mas as suas. Vejam só que terrível e cruel ironia a História nos proporciona. Barack Obama subiu ao poder nos EUA prometendo extinguir a prisão de Guantánamo, prometendo acabar com as guerras, prometendo, sei lá, uma porção de coisas. Talvez tenha acreditado (como tanta gente acredita, inclusive no Brasil) que ser presidente dos EUA é ser “o homem mais poderoso do mundo”. Já bombardeou a Líbia, torturou prisioneiros em Guantánamo, invadiu o Paquistão, executou um homem desarmado, destruiu provas, jogou (ou alega ter jogado) seu corpo ao mar. Obama virou Osama, e isso mostra que Osama venceu.