quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

2469) Apanhados nas redes sociais (2.2.2011)



Uma piada na Internet mostra duas fotos. Na primeira, Julian Assange, o sujeito do WikiLeaks, diz: “Eu forneço informações privadas das corporações para as pessoas, de graça. E sou um vilão”. Na outra, Mark Zuckerberg, criador do Facebook, diz: “Eu forneço informações privadas das pessoas às corporações, por dinheiro. E sou O Homem do Ano”. Há exagero, como em toda piada, mas nos faz pensar um pouco. Zuckerberg diz que não criou o Facebook (como sugerem livros e filmes) para ficar famoso e conseguir ganhar gatinhas. Diz ele que queria “descobrir uma maneira de aproximar pessoas” e que estava obcecado em “realizar algo”. Este último motivo me parece plausível. Nerds como Zuckerberg gostam de resolver problemas técnicos e intelectuais (problemas que eles próprios criam do nada), e não pensam muito em ficar ricos, comprar ternos Armani, andar de BMW, etc. O filme A Rede Social faz um contraste interessante entre ele e Sean Parker (Justin Timberlake), o criador do Napster, que é uma curiosa mistura de nerd e yuppie, preocupado com roupas, ostentação, etc. Já Bill Gates pertence a um terceiro tipo. Não há dois nerds iguais, a não ser os medíocres.

Um nerd disse certa vez que gostava mais de computadores do que de garotas porque os computadores davam respostas mais rápidas e que faziam sentido. Quem é taquipsíquico (gente que pensa mais depressa do que o normal), dificilmente vai encontrar num ser humano normal a mesma velocidade de resposta. Por outro lado, nerds são lentos para se adaptar a ambientes estranhos. Sua dificuldade de conviver com outras pessoas (e de arranjar namoradas) não é bem por causa das pessoas em si, é pela obrigação de tomar banho, vestir uma roupa diferente da habitual, sair de casa, chegar num local cheio de gente desconhecida, submeter-se a rituais meio ridículos, ser forçado a conversar (além da pessoa que lhe interessa) com gente a que não dá a mínima, ouvir uma música que não lhe agrada... Quem é assim é nerd? Então eu sou nerd.

As redes sociais (Facebook, Orkut, etc.) oferecem para esses sujeitos (que pouco estão ligando para aparência pessoal, roupas, etc.) a oportunidade de conversar com gente interessante (= gente que se interessa pelos mesmos assuntos que eles, seja Star Wars, xadrez, folk rock, magia céltica, música barroca, o escambau), e poder conversar em seu próprio quarto, de calção, comendo biscoitos, sem gastar o dinheiro da mesada. E com a opção de, com um só clique, desligar aquilo tudo e ir para a sala, ler um livro, escutar um som, ou apagar a luz e adormecer do jeito que está. Esses caras não são nocivos, não são violentos, não são destrutivos. São apenas diferentes. As redes sociais permitem, aos caras que gostam de ir direto ao assunto, ir somente aos assuntos que lhes interessam, sem precisar fazer um teatrinho social para agradar a ninguém. Se isso não é um progresso nas relações humanas, favor parar o planeta que eu quero descer.