quarta-feira, 25 de maio de 2011

2565) A escola na retaguarda (25..5.2011)



A indústria cultural ultrapassou a escola, nas últimas décadas, como instrumento formatador das mentes de crianças e adolescentes. Existe um cabo-de-guerra permanente entre pais e filhos com relação ao tempo de estudo e tempo de lazer. A garotada passa cinco horas na escola; quando volta, quer jogar videogame ou ver televisão. Os pais insistem para que eles vão fazer os deveres, vão estudar, e os guris esperneiam: “Pô, passei a manhã inteira na escola, chego em casa vou ter que estudar de novo?!”. Assim que conseguem, correm para a TV ou o PlayStation e entram numa frenética atividade mental. Se pudéssemos botar em nossos filhos um capacete de eletroencefalograma-em-tempo-real, veríamos que nas duas ou três horas em que passam jogando “Fallout” produzem a mesma quantidade de energia mental dispendida em 150 horas estudando matemática.

Eliminar os aspectos negativos da indústria cultural é uma missão impossível, pois seria preciso bloquear sua sequiosidade vampírica pelo lucro, ou seja, seria preciso negar sua própria natureza, sua própria razão de ser. O símbolo da indústria cultural poderia ser o Fabricante de Jujubas. Ele sabe que a jujuba não alimenta coisa nenhuma, não traz nenhum bem ao organismo, em grandes quantidades pode até fazer mal; mas jujuba é o que ele sabe fabricar... Sendo assim, pau na máquina e jujuba no mundo. Quando alguém o questiona, ele diz: “Mas o povo gosta!” A indústria cultural é uma gruta-de-ali-babá com milhões de jujubas alimentares, televisivas, recreativas, tóxicas, o escambau. Cada um fabrica uma jujuba diferente e nega ser responsável por qualquer problema; se alguma jujuba está fazendo mal, é a do vizinho, não a dele.

Tanto a escola tradicional quanto a indústria cultural têm aspectos positivos e negativos. O difícil é juntar os aspectos positivos dos dois e eliminar os negativos. Existe um pensamento generalizado de que a escola, do jeito que é, segura cada vez menos a atenção e o interesse da meninada. O lazer gratuito (eletrônico) é cada vez mais abundante. As aulas são chatas (giz... quadro-negro...). As matérias são consideradas incompreensíveis ou irrelevantes. Os professores dão as mesmas aulas, ano após ano, com estoicismo, com resignação, em busca da sensação (que nem sempre lhes chega) de que cumpriram com o seu dever. Ganham uma merreca; se perderem o vislumbre do idealismo, de que estão formando os jovens do futuro, o que lhes resta? É difícil eliminar os aspectos negativos da escola tradicional porque eles se referem principalmente a pilares estruturais como conteúdos, legislação, metodologia, composição curricular, reorganização do tempo e do espaço físico, etc., e mexer nisso corre o risco de derrubar o edifício inteiro.

Como dizia Bob Dylan: “É um mundo engraçado, este que está surgindo; parece doente e faminto, parece cansado e andrajoso. Dá a impressão de que está morrendo, mas mal acabou de nascer”. Vai ver que é isso mesmo.

4 comentários:

Anônimo disse...

é dificil concorrer com o jujubeiro. sou professor, vivo isso todo dia. como falar de poesia se o menino está pensando em correr pra casa e tomar de conta do controle do jujuba...digo do PlayStation?

João Araujo Floresta

Octavio Aragão disse...

Talvez a saída seja descobrir a poesia no Playstation.

Anônimo disse...

Octavio Aragão,
talvez seja essa a saída. o problema é que eu sou um leitor a moda antiga. só leio mesmo nos livros. ou seja, não sei nem pegar num Playstation. mas fica a sugestão.

Giovana disse...

Consegui que meu filho, hoje com 13, não goste de videogame. Mas o computador e suas redes disputam minuto a minuto com a matemática e as outras ciências. Livro, então, haja esforço para que ele se interesse por alguma coisa...