sábado, 4 de setembro de 2010

2338) A cena do chuveiro (4.9.2010)




A famosa cena do assassinato de Janet Leigh no chuveiro, em Psicose (1960) de Hitchcock já foi mais analisada do que o sorriso da Mona Lisa ou o monólogo de Molly Bloom. 

No cinquentenário do filme, todo jornalista quer desencavar novos detalhes. Como sabem os cinéfilos, a cena do chuveiro foi dirigida por Hitchcock com base num story-board (sequência de desenhos plano-por-plano) concebido pelo artista gráfico Saul Bass, também autor dos letreiros de apresentação do filme. 

Foram (segundo o diretor) sete dias de trabalho e 70 posições de câmara para captar 45 segundos de filme.

Um artigo de Steve North na Salon traz uma informação que eu não tinha. 

Quando o vulto da “mãe” de Norman Bates entra no banheiro, de faca em punho, para assassinar Marion (a personagem de Janet Leigh), não é o ator Anthony Perkins quem está ali (Perkins faz o papel de Norman, inclusive nos momentos em que se veste como a mãe para cometer os crimes – acho que a esta altura não estou estragando a surpresa da história). Numa entrevista a North, concedida anos atrás, Perkins declarou: 

“Hitchcock estava receoso de revelar a natureza e o papel duplo de Norman, caso eu fosse visto na cena, talvez devido a minha silhueta característica, muito delgado e de ombros largos. (...) O dublê que ele usou era um sujeito de silhueta muito diferente da minha”. 

O diretor quis despistar o público, evitar que ele sequer imaginasse que aquele vulto era o de Perkins.

Fui conferir a informação no livro de Stephen Rebello Alfred Hitchcock and the Making of ‘Psycho’ (St. Martin’s, 1998), e de fato, no capítulo 7, em que se narra a filmagem, surgem mais detalhes sobre isto. 

Perkins estava ensaiando uma peça (Greenwillow) em Nova York, e Hitchcock o liberou durante essa semana. Em seu lugar, quem empunhou a faca, usando as vestes da Mãe, não foi um homem, mas uma mulher, uma dublê de 24 anos chamada Margo Epper. 

Ela é vista através da cortina de plástico, abrindo a porta do banheiro, aproximando-se, afastando a cortina (em contraluz), desferindo punhaladas, lutando com Marion, e finalmente indo embora, de costas. (Revi a cena agora; tenho o DVD, mas achei mais simples acessar o YouTube. Estarei ficando jovem?)

Margo Epper teve o rosto pintado de preto para reduzir o excesso de luz refletida pelos azulejos do banheiro. Diz a dublê que no seu dia de filmagem “não havia ninguém no chuveiro”, mas o fato é que ela e Marion aparecem juntas em pelo menos dois planos (há outros em que aparece um braço, que pode ser de qualquer pessoa). 

Janet Leigh teve uma “dublê de corpo” para os planos de nudez, uma “stripper” profissional chamada Marli Renfro. Outros dublês foram usados para outras cenas da Mãe, mas “quando ela aparece com a faca, sou eu”, diz Margo Epper. 

O Internet Movie DataBase, entretanto, informa que em alguns planos da cena a Mãe foi interpretada por uma atriz chamada Anne Dore.... e a investigação continua.