sábado, 18 de dezembro de 2010

2430) “The Unforgettable Fire” (18.12.2010)



Acabei a leitura do livro que, sob esse título, conta a história da banda U2, que por motivos variados é uma das minhas preferidas. Comecei a escutar o U2 por volta de 1991 quando saiu o disco Achtung Baby, e foi essa a minha primeira impressão sonora. Depois veio Pop, que na época achei um disco muito barulhento e preferi suspender julgamento. Mas aí comprei e conheci, meio em flashback, The Joshua Tree, que foi (no pitoresco estilo da imprensa roqueira) o disco que os catapultou para a fama. Do U2 o que eu sempre soube foi que era uma banda irlandesa, envolvida com política. A banda tem Bono, um vocalista melodramático no palco e sagaz fora dele, e The Edge, o homem-guitarra-orquestra, que para mim está para a banda assim como Keith Richards está para os Rolling Stones. A cara é o outro, mas o cérebro é ele. (A banda é complementada por dois galegos, baixista e baterista, que fazem questão de permanecer nos bastidores, coisa rara no rock).

O livro conta a história da banda, onde os rapazes cresceram, estudaram, como se conheceram, etc. E se encerra em 1987, com a explosão de The Joshua Tree e a gravação do filme Rattle and Hum. Os últimos vinte anos estão fora, mas o que me interessava era o começo. Por exemplo, nunca imaginei que a influência religiosa fosse tão forte, mais até do que a política. Houve um momento crucial em que o grupo Cristão Carismático a que pertenciam Bono, Edge e Larry (o baixista Adam estava noutra) exigiu que abandonassem o rock, por ser um culto ao ego. Depois de muita reunião, os três decidiram manter a religião, afastar-se da ortodoxia e continuar tocando.

O livro de Eamon Dunphy é em muitas sentidos uma biografia de fã. Detesto biografia de fã, onde a cada página encontramos parágrafos tipo “Naquela noite, chorando no travesseiro, aquele adolescente rebelde jurou que um dia os adultos incompreensivos haveriam de reconhecer o quanto estavam errados...” É a História escrita de trás para diante, os fatos do passado explicados e coloridos pelos triunfos do presente. O bom biógrafo escreve cada momento da história que conta como se não soubesse o que vai acontecer no futuro, porque é assim que a vida é vivida. Há um apêndice escrito (com sensatez, em geral) por John Waters, que diz tietagens como: “Os Beatles podem ter tido esperança. Os Stones podem ter ansiado por isto. Springsteen pode ter tentado. O U2, porém, SABIA que um dia seria A Maior Banda do Mundo”. Os Sebomatos também sabiam.

Por outro lado, Dunphy é perceptivo e ácido em suas críticas aos excessos decadentes do rock (sexo, drogas, egotrips, mau profissionalismo) e ressalta o lado até meio ascético que o U2 tem (ou tinha – não sei como é agora). Interpretações e ingenuidades à parte, é um livro com muita informação sobre a banda e sobre o contexto religioso-político-social de onde ela emergiu, e isto é o bastante para justificá-lo.

Um comentário:

elMalungo disse...

O U2 dos anos 80 foram aqueles que definiram a que a banda se prestava. Discos mágicos.
Os anos subsequentes não trouxeram grandes novidades. Assim penso. Quando você mencionou que o livro ia até o início dos 90 então, foi até um atrativo, já que não vejo grandes coisas nos últimos trabalhos - com algumas exceções. Agora as tietagens, realmente, em trabalhos desse tipo são ridículas. Ainda nos anos 80 foi rodado o filme Rattle and Hum que é pra mim um dos melhores registros de uma banda de rock. Acho que nos anos 90 ainda o U2 produziu um filme ficcional, na verdade, em conjunto com Wim Wenders que tem uma certa ligação com a banda, não sei nem de quando isso começou, talvez no livro haja alguma menção.
De qualquer forma vou procurar pelo livro porque nesse período de férias da universidade quero aproveitar para ler um pouco algumas biografias. Há também uma biografia nova de Keith Richards que me parece ser interessante.
Biografias de artistas de rock. Deveria haver uma prateleira separada assim. Facilitaria o trabalho.