terça-feira, 12 de outubro de 2010

2371) A Presidência segundo Asimov (12.10.2010)




Isaac Asimov tem um conto, “Democracia Eletrônica”, sobre o possível futuro das eleições presidenciais nos EUA (o conto está traduzido na antologia Sonhos de Robô, Editora Record). 

Num futuro distante, as eleições presidenciais são controladas pelo grande computador Multivac. A família de Norman Muller está em polvorosa, porque o Estado de Indiana, onde eles vivem, será escolhido para a eleição. Esta é a primeira estranheza que o autor infiltra no conto. 

Vemos a expectativa da família, e o mau humor do sogro de Norman, que resmunga o tempo todo, relembra os bons velhos tempos, critica as eleições atuais: “Disseram que o sistema acabaria com os políticos radicais, o desperdício de dinheiro dos contribuintes na campanha e os joões-ninguém sorridentes, vendidos e anunciados para o Congresso ou para a Casa Branca...”

E de pista em pista vamos descobrindo como os presidentes são eleitos nesse futuro. Asimov explica que tudo mudou após o advento dos computadores, e principalmente do Multivac, o sistema que “tinha meia milha de comprimento e três andares”, e “cinquenta técnicos não paravam de andar pelos corredores, dentro de sua estrutura”. Pois é, amigos... o conto é de 1955, que poderíamos chamar A Era dos Computadores-Dinossauros. 

E logo ficamos sabendo que ele, Norman Muller, foi escolhido para ser O Eleitor. Agentes do Serviço Secreto ocupam sua casa, cortam as comunicações, e no dia marcado o conduzem para um lugar secreto. Ele é plugado a sensores que avaliam sua pressão sanguínea, batimento cardíaco, condutividade da pele, ondas cerebrais, etc. , enquanto ele responde perguntas sobre uma infinidade de assuntos, desde coleta do lixo até ser contra ou a favor de um incinerador central.

Mas... por que Norman? Resposta: porque Multivac examinou os dados da população dos EUA, e considerou que ele era “...não o mais esperto, o mais forte, ou o mais sortudo, mas o mais representativo desse ano”. O mais mediano. O eleitor padrão. E é de acordo com as opiniões de Norman que o próximo Governo será eleito. 

No fim do interrogatório, Norman é liberado, e pergunta timidamente quem foi o candidato que ele acabou de eleger. Respondem-lhe que é segredo, e que terá de esperar a proclamação oficial. O que me lembra a velha história do coronel nordestino – o morador do sítio entrega-lhe a cédula em branco, o coronel preenche, bota na urna, o morador pergunta em quem votou e o coronel diz: “Oxente, meu filho, que pergunta é essa?! O voto é secreto!!!”.

O conto de Asimov ilustra um velho ideal científico: a perfeição total na arte da projeção estatística. Dizem os Ibopes que numa pesquisa de recorte bem feito (idade, classe social, região, etc.) chega um ponto a partir do qual a resposta é a mesma, com 2 mil, 200 mil, 2 milhões de pessoas. 

Asimov se pergunta se conseguiremos um dia encontrar a Amostragem Perfeita. Tema atualíssimo... abordado há 55 anos.






3 comentários:

Tucha Porto disse...

BT muito interessante este conto, principalmente neste nossos momentos pré-eleitorais. UM escolhido para decidir por toda a nação, com a ajuda de um supercomputador, escolha esta que era parametrizada pelos aspectos personalíssimos do escolhido, que o fora escolhido contra a sua própria vontade. Tal conto me retoma a idéia da diferencioação entre os votos "quantitativos"e os votos "qualitavos", onde os dois modelos tem imperfeições no nosso modelo democrático! Fiquei curioso para ler este conto!
Abs, TUCHA

Braulio Tavares disse...

Tucha, o livro é esse, a capa brasileira é igual à americana que tem na foto. Pode se encontrar em sebos nou no EstanteVirtual.com.br

Tucha Porto disse...

Valeu BT, providenciarei!!!