sexta-feira, 23 de julho de 2010

2300) Os Ulisses do mundo inteiro (22.7.2010)



(Joshua Cohen) 

O escritor Joshua Cohen é autor de um romance de 800 páginas intitulado Witz, uma história cheia de trocadilhos em diversas línguas, tendo como tema a lenda do Judeu Errante. Um amigo lhe disse: “Seu livro é o Ulisses judeu”, aludindo ao romance de James Joyce (1921). Cohen ponderou que o próprio livro de Joyce já é o “Ulisses judeu”, além de ser também, claro, o “Ulisses irlandês”. Mas isto o deixou com a pulga atrás da orelha, e ele publicou um artigo no saite The Daily Beast dando um balanço dos “Ulisses” em diferentes culturas, ou seja, o que cada literatura nacional tem de mais parecido, em forma e/ou espírito, com o livrão de Mestre Joyce. 

Ele cita doze livros, dos quais li apenas um, e conheço outros quatro de ouvir falar. 

Começo pelo décimo título de sua lista, que é justamente Grande Sertão: Veredas de Guimarães Rosa (1956). Diz Cohen: 

“A intrincada e hipnótica história de Riobaldo, um velho fazendeiro que vive no interior do Brasil. Rosa faz uma evocação dos ritmos da fala, das repetições e dos diferentes registros verbais que torna seu livro um exemplo de ponta no modernismo latino-americano. É também um dos poucos épicos da Modernidade - um movimento nascido na cidade – a abordar as regiões mais remotas e selvagens”. 

Uma descrição interessante, mas para um leitor europeu não dá uma idéia muito clara da imensa complexidade linguística e temática do livro. 

Para Cohen, o “Ulisses britânico” é Mrs. Dalloway de Virginia Woolf (1925), cuja escolha ele justifica assim: 

“É a resposta feminina britânica à masculinidade irlandesa. A narrativa de Woolf segue um dis de junho na vida de Clarice Dalloway enquanto ela organiza uma festa a se realizar naquela noite. O que era externalizado em Joyce – detalhes físicos, ação – é internalizado em Woolf – detalhes mentais, psicologia. Seu livro é um triunfo da voz humana mais profunda”. 

Embora o livro não seja um calhamaço comparável ao de Joyce, a comparação procede, e está bem justificada. 

O “Ulisses alemão” para ele é Berlin Alexanderplatz de Alfred Doblin (1929): 

“Um relato epicamente incessante do ‘demimonde’ de Berlim. Repleto de crimes, prostitutas, uma prostituta assassinada. O obtuso Franz Biberkopf é solto da cadeia e sai para a prisão maior que é a República de Weimar. Doblin, um jornalista, psiquiatra e veterano da I Guerra, germanizou o olho e o ouvido panorâmicos de Joyce para captar a gíria urbana, e assim criou um dos melhores romances de decadência do século”. 

O último título que me é familiar é Adán Buenosayres de Leopoldo Marechal (1948), sobre o qual ele diz: 

“O romance de Marechal acompanha uma fraternidade de aventureiros baseada nos amigos do autor, entre os quais Jorge Luís Borges. Em sete seções centralizadas na formação estética de Adán, um aspirante a poeta, a homenagem a Homero cede lugar à reescritura de Dante, na qual o espanhol da Argentina se torna um brinquedo a ser pervertido e reinventado”.




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