sexta-feira, 18 de junho de 2010

2165) A experiência do dr. Lugano (14.2.2010)





Este episódio está registrado nos Anais do Instituto Histórico e Geográfico do Cariri, vol. XII, a partir da página 119, substanciado por depoimentos e reproduções das imagens pertinentes ao caso. Basta-me aqui referir os fatos principais, que julgo não serem de conhecimento do grande público.

Em meados de 1976 surgiram boatos de que uma D. Eulália, residente em Monteiro, no Cariri paraibano, estava produzindo fenômenos mediúnicos, testemunhados por dezenas de pessoas. Não havia a tradicional comunicação com espíritos dos mortos; foi constatado que nas ocasiões em que ela entrava em transe ocorriam fenômenos de levitação, poltergeist, materialização de ectoplasma, etc. 

O dr. Alberto Lugano, professor da então FURNe (hoje Universidade Estadual da Paraíba-UEPB), procurou-me no Museu de Arte, onde eu trabalhava, e pediu-me que o acompanhasse numa visita, levando uma filmadora Super-8.

Em Monteiro, fomos recebidos pela família de Dona Eulália. Explicamos que queríamos filmar tudo, e não encontramos oposição. Havia uma dúzia de visitantes na sala, que era ampla, e mais alguns membros da família. Instalei o tripé, acendi luzes. 

D. Eulália sentou-se numa cadeira, e pedimos que se colocasse de encontro a uma parede branca, que nós mesmos escolhemos. E foi assim que consegui filmá-la no momento em que, depois que ela mergulhou em transe, a cadeira se ergueu no ar, diante dos nossos olhos, oscilando um pouco para os lados, mas subindo verticalmente, a um palmo da parede, e chegando a ficar quase dois metros acima do chão. Depois, baixou.

O filme provocou debates acalorados na FURNe (“Charlatanismo! Hipnose!”), e depois na UFPB em João Pessoa, para onde o levamos na semana seguinte. Era apenas um rolo de Super-8; eu tinha levado vários rolos, mas o fenômeno durou apenas dois ou três minutos. 

Pude mostrar que não havia truque, até porque o Super-8 é reversível, ou seja, não tem um negativo de onde se tire uma cópia. O rolo filmado é, depois que o revelamos, o mesmo rolo exibido, e era claro que não havia manipulação. E não se pode hipnotizar uma película.

Voltamos para Campina e fizemos nova sessão, convidando a imprensa. Todos prenderam a respiração vendo novamente o plano único, sem cortes, da médium sentada, seu rosto arfando, os olhos esbugalhados fitando a câmara e fechando-se devagar. Em seguida sua cabeça descaía para o lado, e a cadeira começava a se elevar. 

Chegando ao fim do filme, um crítico de cinema local veio até o projetor e pediu-me para fazer uma nova projeção, mas começando do ponto em que a mulher já estava em transe. Fiz o que ele pedia, apagamos as luzes... e daí em diante (juro pelos meus filhos) a mesma imagem que víramos antes mostrou apenas a cadeira imóvel, e a médium de cabeça baixa. Nada se mexeu, nada se elevou. 

“Sim,”, disse o crítico, “é impossível hipnotizar uma película, mas se a película registra algo capaz de hipnotizar, julgamos ver na tela o que nunca foi registrado pelas lentes. É sempre assim”.


(Este conto está incluído no livro Histórias Para Lembrar Dormindo, Rio de Janeiro, Casa da Palavra, 2011)


3 comentários:

Luiz Lima disse...

nao sabia que a capacidade de hipnotizar fosse assim infalivel. se entendi bem o texto, toda pessoa que ve esse filme fica hipnotizada e ve a cadeira subir?

Braulio Tavares disse...

Exatamente! Mas, como é um conto, pode tudo, né? :-))

araripe disse...

Safado!