quinta-feira, 20 de maio de 2010

2061) O Desígnio Inteligente (16.10.2009)



(Robert J. Sawyer)

Um dos debates científico-filosóficos mais acesos de hoje em dia é do “Intelligent Design” e que pode, não sem alguma fricção, ser traduzido por “Desígnio Inteligente”. (“Desígnio”, neste caso, assimila significados presentes na palavra vizinha “desenho”, algo esquematizado, criação de “B” à imagem de “A”; e de “desígnio” sugerindo plano, intenção, propósito.) A discussão sobre o Desígnio Inteligente coloca Ciência e Religião em campos opostos. De um lado, os que dizem que o Universo foi criado por uma Divindade. Do outro, os que vêem na sua criação o resultado do entrechoque de forças materiais, das quais surgiram galáxias, estrelas, planetas, a Terra, a vida, os animais, o Homem, a cultura, a própria idéia de Deus, da Ciência e do Desígnio Inteligente.

Entrevistado pelo escritor brasileiro Gerson Lodi-Ribeiro, no saite Intempol (http://tinyurl.com/ygd5enx)o norte-americano Robert J. Sawyer recoloca a questão do Desígnio Inteligente de uma forma que é familiar aos leitores de FC, e que estabelece uma divertida terra-de-ninguém entre o Criacionismo religioso e ao Materialismo científico.

Sawyer se pergunta, com razoável bom-senso: “Acredito que um dia seremos capazes de simular a realidade com tal exatidão que não saberemos a diferença entre a simulação e o original? Sim: não há motivo para que não possamos fazer isso, cientificamente. Acredito que um dia poderemos criar micro-universos num laboratório? Sim, igualmente: acredito no poder da ciência. Dadas estas duas premissas, posso afirmar categoricamente que não vivemos numa simulação criada por seres mais avançados do que nós? Posso afirmar categoricamente que não vivemos num micro-universo criado por algum cientista num universo mais amplo? Não, não posso negar nenhuma dessas possibilidades. Poderemos um dia encontrar provas de que isso acontece? Sim, creio que tais provas podem ser descobertas, usando os instrumentos da ciência. (...) Talvez estejamos vivendo num universo criado por alguém; há alguns indícios científicos de que isto pode ser verdade, e vale a pena investigar esta hipótese”.

Sawyer foi acusado de “criacionista”, “místico”, mas para mim sua argumentação está firmemente baseada na ciência, e nada tem de religiosa. O que distingue a hipótese do Criacionismo religioso é a postulação de uma entidade espiritual, não-material, que criou o universo da matéria onde vivemos. Para a religião, existem seres que não são feitos de matéria, que não estão sujeitos às leis da Física e da Química. Já a ciência é capaz de aceitar até a possibilidade de sermos um video-game ou uma experiência de laboratório de outras criaturas, desde que essas criaturas estejam, tal como acontece conosco, num universo que obedeça às leis da matéria; que não seja um universo “espiritual”, sobrenatural. Um universo cujas leis materiais talvez transcendam as nossas, mas sem negá-las, assim como a Física de Einstein transcende, sem negar, a de Newton.

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