quinta-feira, 22 de abril de 2010

1941) O livro e o texto (29.5.2009)




É preciso distinguir entre “texto”, que é um conjunto de sinais verbais possível de se reproduzir de diferentes formas, e “livro”, que é um objeto de papel onde esses sinais são reproduzidos através de impressão gráfica. 

O livro é um objeto vinculado a uma maneira de registrar e transmitir informação. 

 Texto e livro são dependentes até um certo ponto. Um mesmo texto pode ser transformado em livros diferentíssimos entre si. Basta pensarmos em toda a variedade de edições que qualquer grande clássico literário já teve. E alguém pode gostar de um livro sem se interessar pelo seu texto: gosta apenas pela beleza ou pela originalidade de seu aspecto gráfico. 

 O texto é atemporal, maleável, adaptativo. O livro é datado, cheio de ressonâncias afetivas, carregado de nuances. É a cara da sociedade e da época que o produziram.

A discussão sobre “o fim do livro de papel” com a chegada da mídia eletrônica me lembra a discussão idêntica sobre a obsolescência do folheto de cordel. 

Os folhetos talvez não existam mais daqui a 100 ou 200 anos, mas mesmo que isto aconteça os poemas de Leandro Gomes de Barros ou Manuel Camilo dos Santos continuarão sendo publicados e lidos – em CD-Rom, em livro eletrônico, em “chips quânticos”, sei lá o quê. 

O texto é uma espécie de alma imortal, capaz de reencarnar em corpos variados: página impressa, livro em Braille, folheto, “coffee-table book”, cópia manuscrita, arquivo PDF... Qualquer texto pode se reencarnar nestes (e em outros) formatos, não importa se é Moby Dick ou Viagem a São Saruê, se é Macbeth ou O Livro de Piadas de Casseta & Planeta.

Sou um fetichista do livro de papel. Sou do tipo de ter várias edições diferentes do mesmo texto, ou de recomprar um livro que saiu com uma capa mais bonita ou projeto gráfico superior. Portanto, vou enumerar aqui algumas vantagens do livro eletrônico, que acho uma invenção bem-vinda.

1) A portabilidade. Hoje eu posso viajar e levar uma biblioteca de dois mil títulos no bolso do casaco.  

2) Rapidez de busca. Posso localizar instantaneamente em qualquer um desses livros uma frase, um nome próprio, uma palavra qualquer que precise encontrar. Isto é ótimo para consultar dicionários, enciclopédias, obras de referência em geral. 

3) Variação visual. Posso aumentar ou diminuir o tamanho da letra, o estilo da fonte; posso escolher letra branca sobre fundo preto ou vice-versa. 

4) Anotações. Também posso (como nos livros de papel) sublinhar ou destacar trechos, deixar marcas ou comentários. 5) Visualização. Posso abrir duas telas lado, a lado, e, por exemplo, comparar o texto original de um poema de Auden com a sua tradução (sem peso extra na bagagem).

Novas mídias trazem novos recursos, bem como maneiras diferentes de empregar os antigos recursos. Tudo que enriqueça o ato de ler e o processo de reproduzir e disseminar os textos é bem vindo. Há quem tenha saudade do papiro e do pergaminho, e tem todo o direito de ter. Paciência.






2 comentários:

Larissa Alves disse...

Hoje em dia o livro está se aposentando. Não há necessidade de você ter uma estante lotada de livros para ser culto, basta se manter informado através dos recursos modernos, como: computador, celular, etc.

Rafael Bertozzo Duarte disse...

Também gostei muito da versatilidade, praticidade e portabilidade do livro eletrônico. Nem por isso deixo de gostar do livro físico. O livro de papel permite ter uma biblioteca, algo gostoso de ver. Talvez os "e-book readers" precisem de um aplicativo que monte para você sua estante de livros como papel de parede (descanso de tela). Se puderem copiar o cheiro de um livro novo que você acabou de baixar da loja... aí não faltará mais nada!