quarta-feira, 21 de abril de 2010

1934) As gravadoras e as editoras (21.5.2009)



(a Livraria Editora José Olympio)

Há 30 anos, as principais gravadoras de discos no Brasil eram ligadas a multinacionais. Havia muito dinheiro circulando. Executivos disputavam artistas em leilões milionários, acompanhados pela imprensa: “Fulano vai assinar com a RCA por um milhão de cruzeiros!” No outro dia: “Ariola oferece um milhão e meio – e leva Fulano!”. Artistas embolsavam uma grana vertiginosa ao assinar um contrato que os vinculava por cinco anos àquela gravadora, e com exclusividade, com a obrigação de lançar um disco por ano. A gravadora ditava as regras. Às vezes o artista queria fazer uma “participação especial” no disco de um amigo que pertencia a outra gravadora; e o patrão dele dizia “na-na-ni-na-não”. O termo era esse: pertencer. O artista pertencia à gravadora,como um jogador de futebol pertence ao clube. Só pode jogar naquele.

Há 30 anos, as editoras de livros no Brasil eram empresas nacionais, muitas vezes criadas e administradas pelos membros de uma mesma família (os Machado na Record, os Lacerda na Nova Fronteira, os Prado na Brasiliense, etc.). Seus contratos com autores só raramente eram contratos de exclusividade. Contratavam-se livros específicos, não os autores. Já me ocorreu de ter três contratos simultâneos com três editoras para produzir três livros diferentes, e nenhuma delas podia dar palpite no fato de eu ter outros contratos ou não. (Os cantores, coitados, não tinham direito a isto). Os adiantamentos oferecidos pelas editoras eram modestos. Ou melhor, eram realistas. Se o seu livro anterior vendeu 5 mil, você tinha direito a reivindicar um adiantamento nessa faixa, partindo do princípio, já demonstrado, de que era capaz de vender essa quantidade. (Claro que tudo isso era sujeito a negociações e pechinchas, não era um direito automaticamente garantido).

Bem, não vou comentar aqui a situação das nossas gravadoras de discos. Quem quiser detalhes, folheie todos os dias as páginas dos obituários. Gastaram a rodo, fizeram orgias (“Fretemos um jatinho com 30 pessoas para gravar um videoclip em Aruba!!!”), aí surgiu o queimador-de-CD e reduziu Roma a cinzas. O interessante é que o mundo imperial das gravadoras está chegando, nos últimos 10, 12 anos, ao setor de editoras de livros. Editoras se engalfinham na Feira de Frankfurt, em leilões milionários, para publicar o livro ainda não terminado de um escritor croata ou islandês. Nossas editoras nacionais, de-família, estão sendo compradas pelas editoras ligadas a grupos multinacionais, que estão investindo pesado em nosso mercado: Alfaguara, Planeta, SM, uma porção. Essas editoras têm aplicado em muitos escritores incautos o golpe do contrato de exclusividade: “Enquanto você publicar conosco, não pode publicar com mais ninguém”. Proposta que, no meu entender, deve ser sempre respondida com uma vigorosa banana. A menos que a editora ofereça um milhão de reais por ano, mais os direitos autorais relativos à venda dos livros.

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