domingo, 11 de abril de 2010

1898) Para onde vai o mundo (9.4.2009)



(Anjo, do Museu do Vaticano)

Recebi emails de leitores a respeito do artigo recente “Os deserdados de Deus”, onde critiquei posições conservadoras da Igreja Católica (sobre aborto, celibato sacerdotal, virgindade, uniões civis, opções sexuais, controle da natalidade, doenças venéreas), e afirmei: “O mundo está indo noutra direção, uma direção que me parece mais saudável”. Confesso que me exprimi mal. Dei a impressão de que sou a favor da exploração do sexo na mídia, da pornografia, da permissividade narcisista, da pedofilia, do estupro, sei lá do que mais. Não é o caso.

O mal-entendido se deve ao fato de que muitos leitores acham que o mundo está indo nessa direção: a generalização do estupro, da pedofilia, etc. Ora, eu não acho. Isto são excessos que me desagradam, mas, paciência – já existiam na Roma dos Césares, nas cortes européias da Idade Média e do Renascimento, etc. e tal. Patifaria sempre vai existir; crime e violência, também. Exploração dos mais fracos pelos mais fortes (inclusive exploração sexual), também. Mas o mundo está indo numa direção que nem é essa, nem a que o Vaticano ordena.

Sou dum tempo em que se uma moça de 20 anos perdesse a virgindade (nem precisava engravidar; bastava-lhe perder o respectivo) os pais a expulsavam de casa, sob um coro de aprovações da sociedade inteira. Isso está acabando. Hoje muitos pais conversam com os filhos, explicam as vantagens e os perigos do sexo, aconselham que medidas tomar. Rapazes e moças deixam de ser virgens quando lhes convém, e casam pacificamente quando, depois de conhecerem alguns parceiros, encontram um com quem se identificam melhor. A maioria é assim.

Antigamente a gonorréia proliferava, porque pai não discutia esse assunto com um filho. Uma consequência positiva da Aids foi que ninguém pôde mais fazer de conta que essas coisas não existem. Hoje, os perigos, as medicações e precauções contra doenças venéreas se discutem na TV em horário nobre, nos colégios, nas salas de jantar. Essa é outra direção saudável que o mundo está tomando.

Antes, pessoas engravidavam sem querer e tinham filhos sob protesto, condenando-os à baixa auto-estima que aflige tantas crianças não-desejadas. Hoje, há inúmeros métodos (a maioria deles condenados pela Igreja) para evitar filhos, e trazê-los ao mundo apenas quando os pais acham que é o momento. Antes, rapazes e moças descobriam-se homossexuais e se suicidavam por puro horror (conheço casos). Hoje, a homossexualidade é questão de índole e gosto, e basta ter os mesmos cuidados que se tem numa vida heterossexual.

A “direção saudável para onde o mundo se encaminha” nada tem a ver com o que se vê na mídia – o achincalhamento e a banalização do sexo, e uma permissividade moral que só interessa a quem enche os bolsos à custa dela. Pedofilia é crime. Estupro (inclusive o estupro continuado da esposa pelo próprio marido) é crime. São coisas que existem, mas, daqui de onde vejo o mundo, não acho que ele esteja indo nessa direção.

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