domingo, 14 de março de 2010

1788) Obama x Roberto Dinamite (2.12.2008)



Eu tinha registrado o título acima no caderno onde anoto temas para estas colunas. O título já diz tudo, e eu considerei a possibilidade de sugerir ao JPB que publicasse o título e deixasse o resto do espaço em branco. Para que chover no molhado? Mas, ai! Folheando o “Globo” no café da manhã, deparo-me com a coluna do impagável Agamennon Mendes Pedreira, e a foto de Barack com a legenda “Roberto Dinamite”. Agora vou ter que me explicar publicamente.

A eleição de Dinamite para presidente do Vasco da Gama e de Obama para presidente dos EUA me produziram emoções entrecruzadas. Por um lado, tive a alegria pela vitória de um candidato que, não importam os defeitos que certamente tem, é infinitamente melhor do que o presidente que o antecedeu. (E olha que eu nem torço por Vasco e EUA – sou Flamengo e Brasil.) Por outro lado, o desespero de ver o quão pouco essa vitória vai adiantar. São vitórias de Pirro. Roberto e Barack assumem o comando de entidades sangradas, enfraquecidas, dilapidadas. Um Vasco moribundo, uma Norte-América agonizante. Suas vitórias lembram, melancolicamente, a entrada de Napoleão em Moscou, que ele supunha uma invasão triunfal, e que se limitou ao desfile de um exército exausto por uma capital que os próprios habitantes incendiaram antes de evacuar. Que raio de vitória é essa?!

George W. Bush e Eurico Miranda (como eu gostaria de ver um curta-metragem com esses dois caras frente a frente, numa mesa de bar!) fizeram com suas respectivas entidades a política da terra-arrasada, de deixar para o sucessor um cabide de papagaios e micos, um jacá de pepinos e abacaxis. Bush deixa um país refém das próprias guerras, com a coluna vertebral econômica partida e sem chances de cura no horizonte. Eurico deixa um Vasco sem time, sem dinheiro em caixa, e infiltrado de sabotadores a seu soldo, destinados a minar tudo que for tentado pelo novo presidente, para produzir na torcida (como já está produzindo) aquela sensação de “Pois é, com O Outro era melhor...”

Lembra a frase sarcástica de Borges, ao narrar a derrubada do ditador Perón, inimigo de sua família: “Não se sabe com quanto dinheiro conseguiu fugir”. Eurico já bateu em retirada e está por aí, “guardado por Deus, contando os seus metais”. Bush ainda tem pela frente dois meses de melancolia a sós na Casa Branca (todo mundo o desertou, segundo a imprensa, menos Condolezza Rice) antes de mergulhar no oblívio. Queira Deus que não volte a beber; nem a ele desejo isto. Enquanto isso, os novos presidentes terão que remar contra uma correnteza de dívidas, problemas, projetos insensatos, desconfiança interna e externa, cobranças desesperadas de quem já não aguenta mais. São anos e anos de despautérios, de bombas-relógios armadas pelo antecessor e que pipocarão nas mãos dos recém-eleitos. Como diz a antiga frase: “Cuidado com o que você deseja, porque o conseguirá, mas não como pensou que ia ser”.

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