quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

1702) Em busca do choro olímpico (26.8.2008)



(César Cielo)

Passei estes dias tomado pelo espírito olímpico. Ia dormir às 3 da manhã, depois de acompanhar esportes que não compreendo, como o handebol ou a natação (até hoje não sei quantos metros tem aquela piscina, nem quantas vezes o nadador tem que percorrê-la). E acordando às 7 para ver o futebol. Só me arrependi no dia de Argentina 3x0 Brasil, mas também, por essa eu já esperava. Já não boto fé na Seleção titular de Dunga, quanto mais nos vestibulandos!...

Quando juntamos todos os esportes do mundo, e toda a imprensa que os cobre, numa mesma Vila Olímpica, isso produz uma gigantesca massa crítica de frases feitas, que de 4 em 4 anos se repete. Nada é tão parecido com uma Olimpíada quanto a Olimpíada anterior. Entre os clichês mais repetidos, pelo menos pelos locutores brasileiros, está a frase lapidar que eles bradam, sempre que alguém ganha uma semi-final: “Agora vamos para a decisão, e a prata já está garantida!” Se eu fosse um atleta diria: “Toc-toc-toc! Isola! Meu amigo, vá agourar outro!” Porque a última coisa que o sujeito tem que pensar nessa hora é que vai ganhar a prata, não é mesmo? Se perder o jogo, a prata é de bom tamanho. Mas dizer que ela “está garantida” é o mesmo que dizer que a derrota está garantida.

Foi mais ou menos o que ocorreu com os rapazes do vôlei. Claro que foram “pra cima”, tentando o ouro. Nenhuma prata é mais dolorosa do que a que vem no lugar de um ouro que se sabia possível, como ocorreu no futebol feminino e no vôlei masculino. Neste último caso, de forma menos dolorosa, porque o jogo foi pau-a-pau. Em nenhum momento o time de Bernardinho mandou no adversário, que ganhou porque jogou melhor. Não foi assim no futebol das moças. Aquele jogo final do time da Marta nos deu ambição, nos deu esperanças, nos deu “espaço para a expansão do Desejante”, como diria um psicanalista. O resultado era pra ter sido outro.

Estes Jogos Olímpicos nos deixaram um gosto amargo na boca, apesar das vitórias sensacionais do vôlei feminino, de César Cielo e de Maurren Maggi. Das nossas quatro pratas, a de Scheidt & Bruno foi uma vitória. As dos vôleis de quadra e de praia, e a do futebol feminino, ocorreram em disputas em que éramos favoritos e que deveríamos ter vencido. As medalhas de bronze foram sofridas e suadas; a única que representou uma decepção, desta vez, foi a do futebol.

A imprensa otimista se consola lembrando que fomos o país latino-americano mais bem colocado, e que pela primeira vez ganhamos mais medalhas do que Cuba. Isso é uma cara-de-pau sem tamanho. Cuba é uma ilhota que vem sendo morta à míngua pelos EUA há 50 anos. Não precisa ser comunista para achar que é um despropósito compará-la com este gigantesco continente de corrupção e desperdício que é o Brasil. Pelo que o país afirma gastar com esportes (os jornais falam hoje em 692 milhões de reais gastos em preparação para este Olimpíada) a obrigação era mostrar muito mais. E não me refiro aos atletas.

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