sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

1645) Brasil 0x0 Argentina (20.6.2008)



Para a torcida mineira foi uma noite de festa, com “muito samba, muito choro e rock-and-roll”. O rock ficou por conta das bandas mineiras (Skank, Jota Quest). O samba, das batucadas da torcida. E o choro coube aos torcedores favoráveis a Dunga (porque torciam por uma vitória consagradora, que não veio) e aos que lhe são contrários (porque torciam por uma derrota dessas de rolar cabeça de treinador, a qual também não veio).

Não farei comentários técnicos da partida porque confesso que não a vi por inteiro. Ia lá na Globo de vez em quando, mas passei a maior parte do tempo assistindo Jessier Quirino no programa de Fernando Faro, na TV-Cultura. E a poesia de mestre Jessier me dá inspiração para tentar entender o que sucede com a nossa Seleção. Todo mundo na Paraíba conhece aquele número de Jessier sobre o matuto que vai ao cinema mas, como não sabe ler, não entende as legendas, assim como não entende os diálogos em inglês. Isso de maneira alguma o impede de entender o filme, porque ele vê o bandido gritando: “Não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, não-sei-que-lá, seu fila da mãe!” Ora, todo mundo sabe o que foi que o cara disse, não é mesmo? Como diria um acadêmico, em exemplos que tais o nível vérbico prima pela superfluidade.

Eu também sou incapaz de entender o que Dunga tanto grita e tanto conversa com nossos jogadores, mas acho que o Brasil inteiro sabe qual é o “não-sei-que-lá” de Dunga. É o velho vocabulário zagueirístico e volântico do nosso futebol atual: “Fecha! Compacta! Cerca! Mata a jogada!”, e que o nosso saudoso Urai condensou numa fórmula perfeita: “Ataia o home, cumpade!” Tenho que ser justo com o treinador e com o time, que desta vez – pressionado e amparado por um Mineirão repleto – tentou jogar, tentou tocar, tentou marcar gols. Teve uma meia dúzia de chances, e pelo menos umas três bolas que mereciam ter entrado. A Argentina também perdeu seus golzinhos, mas francamente, se tivesse feito um deles o resultado seria injusto. Se alguém tinha de ganhar esse jogo tão truncado, seria o Brasil.

A Seleção Brasileira vem, desde a vitória na Copa de 2002, passando por mais remendos, reformas e agruras do que a lata dágua de Jessier Quirino. Parreira conseguiu levantar o melhor elenco possível de craques, mas enredou-se em politicagem, em delírios congratulatórios (os recordes de Cafu e Ronaldo, a tietagem desbragada da mídia brasileira, a logística principesca da CBF, etc.), e acabou amargando um fiasco histórico. Caiu. Ninguém quis sua vaga. Sobrou para Dunga, que pelo menos teve a coragem de estrear na profissão pegando logo de cara o maior rabo-de-foguete que ela oferece.

Fiquemos calmos; o Brasil não deixará de se classificar, nem que tenhamos de subornar um juiz para ganhar a repescagem contra os times da Oceania. Ninguém é besta de fazer uma Copa do Mundo sem o Brasil. Agora, ganhar? Só em 2014, amigos. “Vou-me embora pro passado”, pegando carona no DKW-Vemag de Jessier.

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