quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

1607) O filme de Al Gore (7.5.2008)




Vi na TV a cabo o documentário Uma Verdade Inconveniente, sobre as palestras que o ex-vice-presidente dos EUA, Al Gore, faz pelo mundo, alertando as pessoas para os perigos do aquecimento global. Gore tem tido algum sucesso. Recentemente perguntaram ao presidente Bush se ele achava que iria mergulhar na obscuridade ao sair da presidência, e ele disse: “Bem, Al Gore depois que deixou a vice-presidência já ganhou um Oscar e um Prêmio Nobel, de modo que deixar o poder não chega a ser o fim do mundo”.

O fim do mundo é de certa forma o que Gore tenta nos fazer enxergar, numa palestra bem conduzida com imagens e estatísticas mostrando aquilo que eu chamo “o terremoto em câmara lenta” – a destruição vagarosa do nosso planeta pela industrialização desenfreada. Como é em câmara lenta, dá tempo da gente ir se mudando daqui para ali, e achar que adiou o problema. Ou que ele não existe.

Vi algumas críticas ao filme dizendo que é uma “egotrip” de Al Gore, que o filme se concentra o tempo todo na pessoa dele, etc. Essas críticas erram o alvo. O filme é um filme de Al Gore (mesmo dirigido por outras pessoas), para divulgar a palestra sobre aquecimento global que Al Gore tem feito pelo mundo (ele diz já ter feito essa palestra mil vezes). O filme não tem nada a ver como a Arte Cinematográfica nem com a Metalinguagem Documental. É uma peça de agitprop, agitação e propaganda. Equivale a um panfleto que recebemos num comício político. E seu objetivo é atingir um público maior que o das palestras. Eu, por exemplo. Gore fez a tal palestra aqui no Rio, há um ou dois anos, mas era só para convidados ilustres. Se não fosse o filme, eu não ficaria sabendo.

Não repisarei aqui as estatísticas citadas por Gore. O filme está nas locadoras, e aconselho a todos que o vejam. Como nenhum de nós tem condições de votar em Gore (ou em Hillary, em Obama, em McCain), acho que somos um tanto neutros ao que o filme contiver de propaganda política dos democratas. Eu vejo Gore, neste caso, como um porta-voz de escritores de ficção científica que há 50 anos nos alertam para os problemas que estamos causando ao meio ambiente. A mensagem apocalíptica de Gore se encaixa como uma luva (ou melhor: se encaixa como a costa leste do Brasil à costa oeste da África) à mensagem de outro filme, The Corporation, já comentado aqui (em 1.7.2005). É tudo o mesmo fenômeno. A atividade predatória e desenfreada das corporações, em busca de cada vez mais lucro, nos leva a um uso irracional da energia, um consumo excessivo, e uma exploração acelerada de recursos naturais não-renováveis. O aquecimento global é apenas uma das conseqüências disto, mas é uma das mais fatais.

Vai ver que não dão muita atenção a Gore por causa da boa aparência dele. Parece um executivo de megacorporação. Se ele usasse um camisão branco, um bastão nodoso, e deixasse a barba crescer, talvez evocasse um arquétipo mais poderoso e conseguisse salvar as vidas dos nossos netos.

2 comentários:

Tomaz Aldano disse...

Estou conhecendo o seu blog agora, enviado por Arkhid Picado.....adorei seu comentario sobre o Al...na mosca

Braulio Tavares disse...

Salve, Tomaz... Há quanto tempo. Seja bem vindo.