domingo, 11 de outubro de 2009

1296) Cultura informal (9.5.2007)



Debate-se em todo lugar a Cultura Erudita e a Cultura Popular, mas existe uma outra dicotomia que não vejo discutir, e que em muitos pontos coincide com essa, sem ser a mesma coisa. Eu chamaria a essas categorias Cultura Formal e Cultura Informal. Não é a mesma coisa que Erudito x Popular, e acho que pode ser mais bem compreendida se fizermos um paralelo com a Economia.

Chamamos de Economia Informal a toda essa atividade econômica que toma conta de nossas ruas: camelôs, vendedores ambulantes, etc. É chamada de informal porque vive à margem dos registros, dos controles e da fiscalização do Estado. Quem a pratica não tira documentos, não requer alvará, não emite nota fiscal, não assina carteira dos empregados, não transaciona através de uma conta bancária da “firma”. Dinheiro entra e dinheiro sai; mercadoria vem e mercadoria vai; e o governo não vê nada e não recebe um ceitil. Grande parte dos brasileiros prefere trabalhar assim. Num país de impostos tão múltiplos e escorchantes, e de tantos exemplos de como gastar mal o dinheiro público, até lhes dou razão.

Passemos para a Cultura Informal. Não sei se podemos traçar uma linha nítida separando-a da Cultura Formal, porque é mais uma questão de grau do que de sim ou não. Mas podemos tentativamente estabelecer que a Cultura Formal é aquela que se cria, se discute, se processa e se consome dentro dos meios oficiais, que são os do Estado e os do Mercado. Os meios oficiais do Estado são as universidades, as academias de letras, os conservatórios, as galerias e escolas de Belas Artes, as escolas e grupos de teatro com apoio oficial, etc. Os meios do Mercado são as editoras e livrarias, o circuito teatral e musical (casas de shows, etc.), todos os espaços onde se produza cultura e exista não apenas uma vigilância fiscal do estado (cobrança de taxas, necessidade de autorização, etc.) como também exista uma espécie de consenso de que é naquele espaço e naquela atividade que acontece a verdadeira cultura, e lá é possível ser um artista profissional.

A Cultura Informal, por outro lado, é o borbulhante caldo amadorístico que precede todo esse profissionalismo. Ela envolve toda a atividade cultural em que circula pouco ou nenhum dinheiro; em que as pessoas agem motivadas pelo entusiasmo próprio, sem que ninguém as contrate ou as obrigue; onde as obras são produzidas e circuladas pessoa-a-pessoa, sem intermediários e sem cobertura da imprensa. Grande parte da cultura popular ou folclórica ocorre nesta faixa, mas as duas não são sinônimas: as Escolas de Samba do Rio de Janeiro, por exemplo, já pertencem à Cultura Formal, enquanto que recitais poéticos e happenings musicais da Zona Sul carioca são praticados por jovens de classe alta, mas tão tipicamente exemplos de Cultura Informal. Seria útil traçar o perfil de uma e de outra, pesar as vantagens de uma e de outra, para que soubéssemos quando seria mais conveniente fazer parte de uma ou da outra.

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