sábado, 29 de agosto de 2009

1223) Thomas Pynchon (13.2.2007)



Desde que saiu o novo livro de Pynchon, Against the Day, voltei a experimentar um ligeiro senso de irrealidade diante das reações de outras pessoas a uma obra de arte. Porque há quem o deteste, e há quem adore de joelhos cantando aleluias. Há quem ache o livro um pouco longo, e quem lamente o fato de que é curto demais (tem 1.100 páginas). Pynchon é um dos escritores mais idolatrados da literatura americana. Lança um livro por década, o que é um ritmo adequado para seus romances enormes, maciços, atulhados de referências culturais do tipo que chamamos (via “O Pasquim”) de “horta da Luzia”: detalhes de objetos, costumes, programas de rádio, vestuário, provérbios, toda uma gigantesca antropologia do cotidiano que Pynchon parece pesquisar exaustivamente (ou então tem memória de elefante) para encaixar nas narrativas.

Li pouquíssima coisa dele. Apenas alguns artigos na imprensa, alguns contos do raro volume Slow Learner que achei na extinta e saudosa biblioteca do Consulado Americano no Rio. E lá mesmo me sentei numa poltrona tendo de um lado sua obra mais impactante, Gravity’s Rainbow, e do outro o volume A Gravity’s Rainbow Companion, um desses compêndios que os americanos adoram, analisando e explicando linha por linha um romance famoso. Li umas 50 ou 100 páginas e parei para descansar, até hoje. A prosa é densa como música orquestral. O vocabulário, inesgotável: as palavras que não acho no Webster’s encheriam outro Webster’s. E, surpreendentemente, não é um autor chato. É engraçadíssimo, cheio de frases brilhantes, e é doido-de-pedra – quando a gente menos espera, a narrativa dá um salto mortal e vai parar num lugar completamente diferente, como num filme dos Irmãos Coen. A toda hora os personagens cantam baladas ou recitam versinhos satíricos, impecavelmente rimados e metrificados. Pode ser difícil, mas nunca é chato.

Aqui no Brasil já saíram traduzidos alguns livros seus: O Leilão do Lote 49 (o mais fininho e mais acessível), V, O Arco-Íris da Gravidade e se não me engano Vineland. Traduzir Pynchon é mais difícil do que traduzir Joyce. No caso de Joyce, quando não se tem idéia do significado de algo, basta reinventar, porque pode ser qualquer coisa, e no caso de Pynchon, provavelmente aquilo tem uma resposta exata, mas só quem conhece aquela expressão são os membros do Sindicato de Plantadores de Tomate do Wisconsin da década de 1940. (E, pensando bem, acaba dando no mesmo)

Thomas Pynchon fez sua fama através desta literatura complexa, inventiva e embebida de cultura americana. E também através de sua reclusão voluntária, sua recusa a dar entrevistas (mais ou menos como Rubem Fonseca faz), a se deixar fotografar. Quem quiser conhecer mais sobre este OVNI literário, vá ao seu portal no saite “The Modern Word”, intitulado “Spermatikos Logos”: http://themodernword.com/pynchon/pynchon_intro.html . Tem assunto para uma vida inteira.

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