terça-feira, 25 de agosto de 2009

1217) A romaria de Romário (6.2.2007)



Anunciam os jornais que a Fifa liberou Romário para jogar pelo Vasco no Campeonato Carioca, notícia que me deu um grande alívio. O Baixinho anunciou que só se despede do futebol depois que marcar o seu milésimo gol. Pelas suas contas, faltam treze. Jornalistas e entidades esportivas têm cálculos diferentes, e para eles faltam mais, mas essas estatísticas nunca batem. Até hoje o mundo acredita que o gol número 1000 de Pelé foi marcado no Vasco, em pleno Maracanã. Cálculos feitos depois mostram que não, foi marcado na Paraíba, num jogo contra o Botafogo; mas quem vai reescrever a História, a esta altura?

Romário, aos 41 anos, terá mais alguns meses de sobrevida, e não duvido que chegue aos mil gols. É um final melancólico porque este número não será atingido, como o foi por Pelé, por um jogador no auge de sua atividade, que engoliu esse recorde como engolia outros a cada ano que passava. No caso de Romário, virou uma espécie de obrigação, que o faz prolongar cansativamente uma carreira que já perdeu a razão de ser. Não pela idade, mas porque Romário nunca foi de treinar ou de manter o preparo físico. E agora os reflexos começam a surgir. Talento ele tem; mas tenho medo de que nesta reta final fique contando com a colaboração de juízes que marcam pênaltes ou de zagueiros condescendentes.

Anos atrás, conversando com um cantador de viola, ele me disse: “Tem três profissões no mundo que precisam aproveitar bem a juventude: cantador, rapariga e jogador de futebol”. E tinha razão. No caso do jogador de futebol, ele tem, digamos vinte anos de atividade, dos 15 aos 35. Todo o seu pé-de-meia tem que ser construído ao longo desse período. A preparação física evoluiu muito nestas últimas décadas, e os jogadores elasteceram seu período de atividade. Ainda assim, o fato de Romário continuar perseguindo o gol 1000 aos 41 anos é um tanto melancólico. Não o faz porque ainda esteja “na ponta dos cascos”; faz porque é teimoso, é marrento, e quer se igualar a Pelé, não no total de gols (porque isto não vai dar mesmo), mas pelo menos na conquista do número mágico.

Vi Romário surgir no Vasco, fazendo dupla com Roberto Dinamite; os dois se revezavam no topo da artilharia do Campeonato Carioca. Era impossível marcar ambos ao mesmo tempo. Depois, ele foi para a Europa e atingiu o auge de sua carreira jogando no PSV e no Barcelona. O que ele fez de gols impossíveis nesse período merece um filme. Seu momento de glória foi ser campeão mundial pelo Brasil em 1994 e considerado o melhor jogador da Copa. Sua maior façanha, contudo, talvez tenha sido ser artilheiro do Campeonato Brasileiro em 2000, 2001 e 2005, já bem depois do ponto mais alto de sua forma física. A sua história é uma história de se fazer de morto e de repente arrancar a cem por hora. Quem sabe ele ainda guarda alguma surpresa para o torcedor, quem sabe ele ainda tem algum gol de placa para nos presentear.

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