segunda-feira, 22 de junho de 2009

1115) Aprendendo a nadar (11.10.2006)



A Unisinos, de São Leopoldo (RS), iniciou neste segundo semestre de 2006 um curso para “Formação de Escritores e Agentes Literários”. A grade curricular para o semestre inicial do curso inclui “Elementos da Narrativa “ (60 horas/aula), “Oficina 1: Ensaio, Memória, Crônica, Biografia” (80 h/a), “Edição, Leitura e Sociedade” (80 h/a), “Gênese do Ensaísmo no Ocidente” (40 h/a), “Best-Sellers” (40 h/a) e “Viagem ao Redor do Cinema” (40 h/a). Estas duas últimas são interligadas.

O curso anuncia que sua intenção é “formar escritores e agentes literários empreendedores e inovadores, com domínio das técnicas de linguagem e mídia, além de uma sólida formação intelectual para interpretar o mundo, a tradição e a sociedade. O escritor formado na Unisinos terá capacidade para criar, formular livros e mediar entre diferentes públicos, planejar negócios e desenvolver produtos nas diversas áreas do mercado editorial e do cenário cultural”. Quem quiser mais informações, procure em: http://www.unisinos.br/formacao_especifica/escritores/.

A discussão é longa e farta, e convido o leitor a ir no saite indicado acima, onde também é possível acessar os blogs mantidos pelos alunos da primeira turma do curso.
Em todo caso, mesmo discordando de alguns aspectos anunciados no saite, acho importante ensinar conhecimentos básicos de técnica literária. Todo mundo precisa saber exprimir-se por escrito, de uma maneira inteligível e pessoal. Muitos escritores já com livro publicado, no Brasil, ainda não sabem.

É possível que haja por aí um grande escritor que não domine muitas técnicas mas possua um estilo próprio, fora do comum, de imensa originalidade. A história da Literatura está cheia de exemplos. Um escritor assim talvez não precise de curso, mas um curso não se dirige às exceções, e sim à regra. Dirige-se a sujeitos comuns como eu. Eu não sou Joyce nem Mallarmé, mas quando tinha 20 anos queria escrever meus romances e meus poemas, e teria gostado muitíssimo de conviver com escritores já tarimbados e dispostos a discutir questões técnicas, para tirar algumas dúvidas. Tem coisas elementares da profissão que eu só vim aprender depois dos quarenta anos, por um golpe de sorte qualquer. E o problema é que tem muitíssimas outras que não aprendi ainda.

O Brasil precisa de escritores profissionais bem preparados, para ver se sobre o nível médio da produção, e é a isto que o curso da Unisinos se propõe. Mas é claro que não basta um curso para ser Affonso Romano de Santanna, ou boas notas para virar um novo Moacyr Scliar (os dois, aliás, são professores neste curso da Unisinos). Não se pode matricular um rapaz numa universidade e achar que ele sairá dali um Jorge Luís Borges (que, por falar nisso, tinha somente o curso secundário), assim como não basta mandar um rapaz para a zona e esperar que ele se transforme em Gregório de Matos ou François Villon. Um grande escritor, como um craque de futebol, forma-se a si próprio.

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