quarta-feira, 10 de junho de 2009

1085) O Nosso Líder (7.9.2006)



A maior parte dos milhões de votos que elegem um Presidente é dada por pessoas que não têm uma idéia muito clara do que este Presidente se propõe a fazer. Não digo que as pessoas sejam necessariamente burras (embora muitas sejam), ou de baixa escolaridade (idem) ou desinteressadas da política (idem). O que há é que, em tese, o leitor deveria examinar durante meses o que cada candidato considera de maior importância (em saúde, segurança, educação, política externa, transportes, etc.) e votar naquele que parece ter as melhores propostas. Quantos brasileiros fazem isto? Eu, pelo menos, nunca fiz.

O brasileiro vota por obrigação. Eu só vou votar este ano porque sou obrigado. Na vez passada, votei em Lula, cheio de preocupação porque imaginava que a partir de janeiro de 2003 uma república socialista começaria a ser implantada no Brasil, o que iria acarretar um bloqueio econômico internacional, câmbio e inflação galopantes, etc. O que demonstra o quanto eu, que faço pose de intelectual, não tinha uma idéia muito clara do que o Presidente se propunha a fazer (nem eu nem a torcida do Flamengo).

Votamos com a intuição, com o Inconsciente, com uma esperança meio irracional de que desta vez dê certo. Votamos como jogamos na Mega-Sena ou cravamos “2x0” no bolo do jogo de domingo. Votamos, principalmente, influenciados pelas imagens que os candidatos construíram ao longo dos anos. Esse horário gratuito do TRE não influencia muito. Só influencia se trouxer revelações bombásticas e indiscutíveis. No mais, qualquer eleitor já se acostumou à maledicência, aos brados de dedo em riste, às promessas, às denúncias, à manipulação de estatísticas, às imagens de crianças sorridentes agitando bandeiras e operários de capacete erguendo o polegar. Todo ano os programas são os mesmos, as imagens são as mesmas, as denúncias são as mesmas. Entra por um ouvido, sai pelo outro, e na hora do voto o eleitor vota num rosto.

Não, não vota no rosto mais bonito. Vota no rosto que lhe infunde mais confiança. Por que, por exemplo, o brasileiro votou em Collor, um político sem passado, de um partido sem expressão? Porque o carisma de Collor se manifestava numa fé ilimitada em si próprio, numa pose imperial e napoleônica que infundia uma enorme tranquilidade naquelas vastas populações ansiosas para delegar poderes. Depois de cinco anos de um titubeante Sarney, Collor parecia uma promessa de firmeza, parecia capaz de resolver todos os problemas com um só tiro. Essa altivez olímpica foi sendo sabotada aos poucos por um comportamento errático, atabalhoado, suicida. O estilo Collor de governar parecia o estilo de jogar de Fernando, atual zagueiro do Flamengo. Fosse ele um político hábil, teria enchido os bolsos da mesma forma, e terminado o seu mandato em paz. Não há nenhum Collor nesta eleição, e o eleitor parece estar dizendo que Lula é dos males o menor.

Um comentário:

Carlos Alberto Mattos disse...

Puxa, Braulio, ninguém deixa comentários por aqui? No meu entender, as pessoas votam mais por julgar que determinado candidato "confere" com a imagem que têm do que é ser um político, e pela maneira como cada candidato corteja os seus (das pessoas) supostos direitos de cidadão. É uma curiosa relação entre imagem e interesses próprios.